quinta-feira, 26 de março de 2009

AO MEU CORAÇÃO OCORRE...
Allison da Silva Ambrósio – 26/03/2009*


Não foi um trovão que retumbou
Um relâmpago que despencou do céu
Nem foi um vulcão que despertou
Repentino mar que se enfureceu

Quando a gaivota atravessou
O meu céu de arrebol
Pouco tempo antes do nascer do sol
Não sei precisar ao certo
O momento em que se deu
Mas meu íntimo gritou: “É Deus!”

Ao meu coração ocorre: “Buscai o meu rosto...”
O teu rosto, Senhor, eu buscarei...

Não foi um trovão que retumbou
Um relâmpago que despencou do céu
Nem foi um vulcão que despertou
Repentino mar que se enfureceu

O perfume do eucalipto
Preencheu o meu pulmão
E a poesia aqueceu meu coração
Em um misto de ternura
Encantamento e amor
Foi que ouvi aquela voz interior

Ao meu coração ocorre: “Buscai o meu rosto...”
O teu rosto, Senhor, eu buscarei...

*(pedalando na Beira-Mar Norte em Floripa, às 6h:00m da manhã!)

sexta-feira, 13 de março de 2009

UM AMIGO ME DEIXOU...
Um amigo me deixou... E o cruel é essa suspeita de que ele não era tão amigo assim, pelo menos da forma de amizade que eu pensava que me tivesse. Veio me dizer da impossibilidade de caminhar comigo, da divergência de estilo, de liderança, essas coisas doloridas que quanto mais são explicadas, mais complicadas ficam de se entender. O dia escureceu logo cedo, no café que tomamos juntos e me foi dada a fatídica notícia.

Como aquele pai que, ao perceber sua impossibilidade ante ao filho drogado em sua frente fica repetindo sem parar: “o que foi que eu fiz? O que fiz de errado?”, assim passei o dia e permiti que o dia passasse por mim, reavaliando, lamentando, suspirando e todos os outros “andos” implícitos neste tipo de angústia. Lembrei-me de todas as vezes que fui preterido, ou, pelo menos a maior parte delas. Todas as decepções amorosas ou profissionais de que me lembrava, todas as afrontas sofridas como líder de ovelhas, como líder de pastores ou como liderado.

Algo pitoresco ocorreu: lembrei-me do primeiro trauma que tive com os humanos. Eu tinha nove anos de idade e a minha primeira namoradinha, sete. Você pode imaginar que tipo de namoro era possível a duas crianças com tais idades, no início da década de setenta (pois é, o tempo passa!). Mas, a lembrança foi boa para registrar minha primeira poesia de amor:

"E... por favor, chegue a uma conclusão
Fique agora, fique comigo
Ou suma do meu coração! "
(nove anos de idade! Quanta precocidade!)

Numa briga dessas comuns entre irmãos, o irmão dela pegou a poesia e a entregou para seu pai que, pasme você, levou tudo muito a sério! Não sei se bronqueou com a menina ou o quê, mas, no outro dia estava no culto de oração das seis da manhã, por saber que meus pais estariam também. Com sua mulher ele os chamou para o canto do templo, onde leu jocosamente a minha poesia. Por conhecer meu pai como conheço, até consigo imaginar o seu orgulho por dentro, sua comemoração pelo filho galanteador em tão tenra idade!

Depois de ler a carta, Dr. Andrade, pai da garota virou-se para os meus pais e desferiu: “Quero deixar claro que café é café, leite é leite. Não gosto e não quero misturar os dois”. Para um bom degustador, meia xícara basta! Minha mãe me chamou, não sei quanto tempo depois de passar por esse vexame. Eu estava jogando bola na rua de casa com os meus vizinhos. Como estivesse indo para o armazém me disse para acompanhá-la.

Com aquele tato abundante das mães e escasso nos pais, ela conseguiu falar tudo sem me machucar, embora deixando claro que eu estava proibido de me aproximar da menina. Só com o passar do tempo é que pude perceber a magnitude daquela ferida aberta em minha alma. Ainda não conhecia bem a divisão das castas pela cor da pele. A única coisa que percebia é que enquanto meu pai ia pra igreja de bicicleta, o pai da menina ia de Wolkswagen (o bom e velho fusquinha, que na época era “o cara”!).

Houve várias outras manifestações depois dessa em minha vida. Acho que me marcou mais por ter sido a primeira. Assim como a primeira impressão, a primeira mágoa, a primeira traição, a primeira perda, são sempre as primeiras coisas as que mais marcam a alma da gente. No caso do meu amigo, ele não foi o primeiro, embora fosse a primeira família a se afastar de mim, depois desse novo momento que estou vivendo. Talvez seja por isso que doeu tanto. Ademais, nem sei direito por que estou contando isto... Acho que é só para desabafar com quem só me lê por puro exercício de sua vontade ou benevolência para comigo! Mas, a vida continua. Não foi o primeiro... Não foi o último... Não foi...

segunda-feira, 9 de março de 2009

QUANDO A GENTE PENSA...
Que já tem todas as respostas,
vem a vida, fazendo novas perguntas!

(do nick de uma amiga, que li casualmente)

sábado, 7 de março de 2009

JUBINHA É NOTA 10!

Um ingrediente novo foi associado às minhas manhãs de exercício: um IPOD com algo entre um milhão e dois milhões e meio de músicas. É certo que estou exagerando, mas é que nunca são repetidas, desde que comecei a escutar esse presente – dentre tantos – que recebi da Silvia Geruza.

Ela é dessas mulheres absolutamente originais (nunca encontrei ninguém igual a ela), visceral, apaixonada, explosiva e triste, tudo junto, tudo batido no liquidificador da vida. Generosa, não há uma ocasião, por menor que seja, em que eu não esteja sendo alvo de sua bondade, dos seus mimos e, de vez em quando, até de suas ressacas emocionais!

Às vezes tenho vontade de lhe dar uns “catiripapos”, quando percebo que ela encanou com alguma coisa e dela não quer se soltar. Noutras, a lembrança dessa admirável mulher, estudante profissional por vocação e vício me joga pra frente, me faz acreditar que o tempo só é implacável para aqueles que não têm determinação e nem um plano a cumprir.

A programação musical do IPOD é um caso à parte: de Rod Stwart a Seu Jorge, passa por Zélia Duncan, chorinho, Djavan/Vercilo, Zizi Possi e vai, como diria o Lenine, “nas ondas do seu pensamento”. Jubis, como é chamada SOMENTE entre nós, os de casa, parece o slogan do Brasil do Garrastazu Médici: “Ame-a ou Deixe-a!”. Ainda bem que só o Slogan!

Pois bem: resolvi pagar o que devo. Pedalar na Beira mar norte da Ilha de Floripa é contemplar garças, gaivotas e muitos outros tipos de pássaros voando. É ver a velhinha que toma um sol no banco de concreto e o casalzinho se beijando no gramado perto do píer. É ver o maratonista correndo em seu treino habitual, é contemplar milhares de formas das nuvens sobre as montanhas ao longe. É sentir o vento frio que “vem lá do sul” e curtir uma sensação inigualável de felicidade e liberdade.

Tudo isso, regado a canções de todos os tempos, de todos os estilos e, conseqüentemente, para todos os momentos desse enorme caleidoscópio que é a nossa vida. Aí que entra a Geruza. Intensa, batalhadora, persistente e disciplinada, ele conseguiu montar um repertório “à sua imagem e semelhança”, que eu não me canso de ouvir e nem ouso alterar. Todas as vezes que vou correr ou pedalar com esse som no ouvido, lembro dela. Resolvi registrar. E como diz o Rod Stwart em uma das canções que ela gravou aqui...

HAVE I TOLD YOU LATELLY THAT I LOVE YOU?

sexta-feira, 6 de março de 2009

VALE À PENA LER
O texto a seguir é do meu amigo, líder e companheiro de sonhos, Ricardo Gondim, que deverá nos visitar neste blog de vez em quando. Só pra garantir a qualidade do livre-pensar. Aprecie sem moderação!

O deus que não é Deus
Ricardo Gondim

Existe um deus que não é Deus. O único com força para enfrentar a Deus. Essse deus não vive em alguma dimensão cósmica ou ponto do universo. Seu oratório é a mente humana. Ele é um deus familiar, pois vive nos espelhos da alma. Mesquinho, cobra desempenhos impossíveis. Inclemente, castiga as inadequações dos fracos com fúria. Ofendido por uma pessoa, dizima gerações inteiras. Imprevisível, age com um humor indetectável. Existe um deus que não é Deus. Capaz de ofuscar o próprio Deus, misturou-se em todas as religiões. Sanguinário, exige sacrifício para estender a sua compaixão. Impassivo, privilegia os eleitos e condena o resto. Indiferente, descarta a prece da criança quando não se encaixa em seus propósitos. Distante, volta as costas para os miseráveis em nome da coerência. Existe um deus que não é Deus. É possível encontrá-lo nos paços sacerdotais, nas leis canônicas, nas teologias que o sistematizaram. Ele vingou na religião e a cúrias já mapearam as suas ações. Sem bondade, ele defende a virtude. Sem graça, faz apologia da verdade. Os cristão sabem que ele existe; já provaram o fel de sua justiça na Inquisição. O homem-bomba de hoje testemunha o seu furor para os muçulmanos. Ele aparece em cada campanha de oração pentecostal para mostrar como é difícil ganhar o seu favor.
Existe um deus que não é Deus. Ele é uma divindade que não suporta ver Jesus almoçando com pecadores, bebendo vinho perto de mulheres suspeitas, elogiando pagãos ou prometendo o Paraíso para gatunos. Esse deus precisa desaparecer, pois é um ídolo malvado. E só com a sua morte nascerá o Salvador.
Soli Deo Gloria.

quinta-feira, 5 de março de 2009

COMO TATUAGEM

Eu já estava nos últimos quilômetros da minha pedalada matinal. Não significa que estava exausto, pois minha adrenalina estava a mil – a Jackie chegou de viagem ontem e a minha energia voltou! A ciclovia da beira-mar norte de Floripa continua a ser uma higiene mental potentíssima, com dezenas de gaivotas, garças e bem-te-vis. Gente bonita caminhando, correndo ou pedalando como eu. Foi nesse cenário que eu o vi.

Era um rapaz de, talvez, uns vinte e poucos anos, um pouco acima do peso, pele clara, bem falante entre outros três rapazes. Caminhava na mesma direção que eu, o que me possibilitou observar ao pedalar uma enorme tatuagem em suas costas. Uma aranha. Mas, era uma aranha diferente que, além de ser enorme, já havia tecido uma formidável teia ao seu redor. Sempre critiquei aos que pintam todo o corpo de forma irreversível. Dragões, caveiras com fogo nos olhos e na boca, serpentes peçonhentas ou surrealismos gigantes me transportavam para além, para frente, para o futuro, quando nada daquilo faria sentido e, no entanto, faria parte inseparável de suas existências. Não no caso daquela aranha. Havia algo de estranho naquela tatuagem.

Ao me aproximar mais pude perceber um brilho estranho que dela emanava. Algo meio aveludado na parte de trás do aracnídeo, bem como entre vários detalhes da teia, concedendo ao trabalho um quê de seda pendurada naqueles espaços. Foi quando o quadro todo se me apresentou. Metade das suas costas tinha sido queimada de tal forma que, não fosse aquela enorme tatuagem, ele jamais teria coragem de andar sem camisa como estava.

Fiquei encantado com a aranha. E impressionado com o rapaz! Como ele encontrou uma saída artística para o que poderia se tornar um trauma em sua vida. Apesar de não saber as causas daquela horrível queimadura, eu aprendi o valor de se contemplar possibilidades em calamidades, arte no caos, transformando o que seria intolerável em algo sensivelmente belo.

Foi minha lição da manhã. Até as cenas mais tristes e feias da nossa história podem se transformar em obras de arte, capazes de emocionar quem apenas passa ao redor. Daquela tatuagem eu gostei. Não foi apenas uma saída de mestre, e sim uma volta por cima, uma tomada de posição que altera completamente a circunstancia de quem a vive. Se fizermos sempre assim, o mundo viraria uma galeria de arte, nós seriamos mais felizes com as nossas histórias e aquilo que não queríamos sequer mencionar de tão feio, seria marcado pelo belo.

Como tatuagem.

terça-feira, 3 de março de 2009

DURANTE A AULA DO PEDRO!

Essa frase (se dele, não sei!) escapou na aula do Prof. Dr. Pedro Heliodoro Branco Tavares, pessoa que muito admiro. Achei legal repassar pra vocês:

"A normalidade é uma síndrome rara, que acomete um em cada seis bilhões. Geralmente, quem a define".