sábado, 29 de agosto de 2009

domingo, 9 de agosto de 2009

SEMPRE A FRENTE... E ASSOBIANDO!

Hoje é comemorado o dia dos pais. Acordei com saudade do meu. Não que ele esteja tão longe que não possa contatá-lo. Nem porque tenha morrido ou desaparecido da minha vida de forma inexorável. É um movimento de dentro para fora. Mais meu que dele. Uma necessidade urgente de me sentir filho, pertencente a uma raiz primeira, conectado a uma genealogia sobre a qual não tenho muito conhecimento.

Aliás, me dei conta de que nos últimos tempos tenho me dedicado a criticá-lo mais que apreciá-lo. Tal comportamento me constrange ao ser percebido. A mudança do meu modo de pensar, talvez se deva ao tempo que passa inflexível por todas as gentes, eu incluído. Depois de certo tempo, algumas suscetibilidades feridas tornam-se tão irrelevantes que chegam a nos fazer corar, envergonhados pela energia despendida em tão pouca coisa. Até mesmo porque, antes, eu não tinha alguns detalhes, algumas informações somente possíveis com o passar do tempo, de quão dificil é ser homem, pai de família, espécime desejante da vasta fauna humana.

Uma pergunta: por que somos tão condescendentes com os erros dos outros e, ao mesmo tempo, tão inflexíveis com o das pessoas próximas a nós? Por que o afastamento daquele amigo da mulher e filhos passa por você com mais facilidade, que a saída do seu pai de debaixo do velho teto familiar? Quando aocnteceu a separação dos meus pais, foi uma dor que senti tão funda em meu coração, que não compartilhei com ninguém. Vivi essa dor sozinho, até percebê-la fraca o suficiente para retomar minha própria vida de onde parei. Dói, eu sei, mas, por que em nossas mentes outros podem e ele não? A partir do resultado, sou capaz de arriscar que ambos, meu pai e minha mãe estão melhores – ou menos mal – que quando estavam vivendo juntos.

Depois, tive que me inserir nessa contabilidade da vida. Após descobrir que não era “a ultima coca-cola do deserto” como eu pensava, ficou mais fácil perceber que todos nós falhamos, principalmente nas expectativas que os outros tinham a nosso respeito. Essa foi uma lição recente. Pelo menos organizada dessa forma. Veio de um amigo dentista. Ele me disse no meio de uma conversa descontraída que tivemos: “Aprendi a não alimentar expectativas sobre ninguém. Primeiro, porque sei que, da mesma maneira com que os outros traem as minhas expectativas sobre eles, eu também devo estar traindo as expectativas dos outros sobre mim. Depois porque, invariavelmente, eu crio expectativas a respeito dos outros que nada tem a ver com eles, e sim com a construção pessoal que faço sobre eles”.
Será que não foi isso? Será que não criei uma expectativa sobre meu velho, muito maior do que ele poderia ser ou parecer para mim? E quem, for God sake, me deu a autoridade de reger as pessoas de acordo com o que espero delas? Se a recíproca fosse verdadeira, onde estarei eu após tantas condenações que receberia? Foi quando descobri que, ao invés de ele me procurar, eu é que deveria ir em sua direção, pedindo perdão por tanto tempo perdido em minhas condenações interiores. Decidi pensar em meu pai, não pelas lentes escuras das decepções, críticas e reprovações, como sempre tenho feito nos últimos anos.
Até porque, quando ajo assim somente eu fico pesado, triste e empobrecido. Pesado, porque decidi carregar comigo, justamente aquelas lembranças que me afligiam o coração, me constrangiam e incitavam os meus piores sentimentos. Triste, porque tais sensações nunca são de felicidade ou prazer, o contrário de tudo o que desejamos pensar sobre quem amamos. Empobrecido, porque tantas lembranças agradáveis são colocadas nos porões da minha memória, não me permitindo curti-las e revisitá-las com a freqüência de quem deseja avivá-las no coração.
Mudei de estratégia em relação as minhas memórias. Vou selecionar aquilo que realmente me faz bem, inclusive sobre meu pai. Desde que decidi assim, coisas pitorescas, emocionantes ou engraçadas surgiram como que por encanto, aos borbotões, numa enxurrada deliciosa de lembranças felizes. Piadas, fatos engraçados, momentos de pura emoção e fascínio. Vi meu pai com todas as cores de sua alegria. Aqueles dentes enormes e brancos, geralmente expostos mesmo diante das adversidades mais agudas surgiram em minha mente. Sua forma metódica até de nos punir por alguma travessura, além de coisas absolutamente insólitas, como me fantasiar de “irmã de caridade” para dirigir o carro à noite, enquanto ele dormia cansado.
Se esse era o objetivo, não sei. Só sei que, quando ele colocou aquele lençol branco em minha cabeça foi assim que me senti. Eu tinha dezesseis anos de idade quando aconteceu. Voltávamos da aula. Ele fazia direito no CEUB em Brasília, enquanto eu fazia ensino médio no Gisno, na mesma avenida. Ele saia da aula, passava pelo meu colégio e íamos em direção a Via Estrutural, recém inaugurada, que nos fazia economizar pelo menos uns vinte quilômetros no regresso para casa, em Taguatinga Norte. Ele sempre estava cansado, doido para que eu dirigisse, para que pudesse cochilar durante o trajeto.
Mas, a lembrança mais pitoresca que me veio sobre meu pai, foi um retorno para casa num domingo à noite. Morávamos no acampamento da Telebrasília, no final da avenida L-2 Sul. Descíamos na ultima parada da avenida e precisávamos caminhar pelo “caminhozinho”, como o chamávamos, até chegar ao destino. Meu pai, como que desafiando a escuridão a frente saía com a Elienai, minha irmã caçula no braço e toda família vinha atrás, em fila indiana. O caminho era cercado de mata densa. Pouco mais que um metro a frente era o que conseguíamos enxergar. Assim, meu pai ia assobiando e dançando de um lado para o outro. Seguíamos na mesma toada, dançando e cantando, como uma típica família africana:
O caminho é estreitinho
Mas eu sempre seguirei
Sempre seguirei, sempre seguirei
O caminho é estreitinho
Mas eu sempre seguirei
Seguirei as pisadas do meu Rei

Sempre a frente... Mal sabia eu que esse seria o estilo de ser do meu pai durante toda sua vida. Nunca vi ninguém se levantar tão rápido, depois de sofrer uma queda brusca na caminhada. Não me lembro de ninguém com uma esperança tão aguçada, um entusiasmo tão juvenil, ingênuo até, devido a intensidade com que se manifestava. Grande parte dos projetos de meu pai não foram avan te, não deram certo por uma infinidade de razões. Mas, ele sempre seguia avante, sempre avançava com a energia de quem estivesse começando naquele exato momento. Essa foi uma das muitas lembranças que me embalam os pensamentos nesse dia dos pais. Essa é a maneira que pretendo sempre pensar nele. No caminhozinho da vida, na escuridão enigmática da estrada, porém assobiando... e seguindo... sempre a frente!

terça-feira, 7 de julho de 2009

TODO LOUVOR!

Essa canção eu compus há muitos anos. Algo em torno de vinte e cinco anos atrás. Mas, como vocês podem ver continua absolutamente atual. A natureza continua linda, Deus continua digno de louvor e eu continuo satisfeito com a vida! Apreciem sem moderação!

(Produzido por Kalyna Brizuela. Filmado na Lagoa da Conceição, um dos mais bonitos cartões-postais de Florianópolis -SC)

O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma,

pois seus súditos
já estavam nus,
nada mais havia para se roer...
DEVANEANDO...

Às vezes entro em crise comigo mesmo. Não sei se estou sendo firme o bastante ou medroso o suficiente para celebrar a minha condição de humano, limitado e assustado com a vida, tanto quanto qualquer um. Acho angustiante ser certinho o tempo todo, controlando o que me habita, que nem chega perto disso. É ruim desempenhar papéis que não são meus, que não me cabem, a não ser que eu subjugue totalmente o que gostaria de fazer.

Dá vontade de puxar a corda do bonde, fazendo suas rodas soltarem faíscas na frenagem repentina. Enquanto todos no vagão se reequilibravam zonzos, em suas primeiras cenas de retorno me veriam descer da composição, ladeira abaixo – ou acima – em direção aos meus sonhos, enfartados por uma porção de coisas que não pedi para que me responsabilizassem.

Vejo o tempo escapando por entre os meus dedos e isso me abate a alma. Ergo-me da cama assustado: ‘meu Deus, mais um dia se passou, colocando-me a menos um do meu fim. Quem irá cuidar da minha poesia? Quem vai cantar minhas canções quando eu me for? Quem vai traduzir corretamente tudo o que significou esse saco de ossos, nervos e veias que atendia pelo meu nome quando chamado?’

Uma faísca de esperança nasce teimosa, lá no último cômodo da minha alma. Um vento qualquer e travesso pode apagá-la, tão frágil e delicada é sua chama. Não me provoquem! Posso apertá-la entre os dedos, sentindo a dor derradeira de sua queimadura quase insignificante. Depois, ergo-me e vou por aí... Procurando alguma poesia, escondida num canto qualquer e esperando por alguém tão desatento quanto eu, que nela esbarre sem querer...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O SONHO DA CAMILE

Eram mais ou menos seis e meia da manhã. Eu estava acordado, ainda deitado e pensativo quanto aos movimentos daquele dia. De repente, ouço uma risada frouxa, gostosa, que vinha do colchão da Camile que dormia em nosso quarto. Minha cunhada estava passando férias com a gente e precisaria ficar em seu quarto com o bebê pequeno.

Fiquei intrigado com o riso da garota. Parecia estar tendo um sonho tão gostoso e engraçado, que sua mente interveio em seu corpinho, a ponto de fazê-la ultrapassar os limites e criar ruído. Aliás, é por causa de ruídos assim que nós os pais nos esforçamos todos os dias. Foi tão bom pensar que minha guria está tendo bons sonhos, sonhos engraçados, completamente diferentes daqueles que fazem as crianças acordarem aos prantos e gritando pela mãe.

Foi um sonho de um coração em paz. Que inveja...

terça-feira, 30 de junho de 2009

PIETÁ

Vê se descansa menino
Sua jornada muito longa é
Vai alterar o destino
De milhões que se porão de pé
Vai revelar o caminho
Àquele que se perdeu
Mas, por enquanto quem cuida de você sou eu!

Eu vejo através das eras
Muita gente a se transformar
Vejo famílias inteiras
Se ajoelhando para o adorar
Você será o remédio
Do mal que retrocedeu
Mas, por enquanto quem cuida de você sou eu!

Serão países inteiros se curvando ante o seu nome
E as suas santas palavras saciando a fome
Fome de amor e justiça
Fome de pão e de luz
E preciosas conquistas em o nome de Jesus!

Mas, também sei o motivo
De você nascer nesse lugar
Foi pra sofrer o castigo
Que ninguém podia suportar...

Eu vejo sangue jorrando...
Ouço gemidos de dor...
A sua vida escapando... Se esvaindo por amor...

Não vejo meu filho ali...
Vejo o Cordeiro de Deus!
Sendo imolado e, assim
Me abrindo as portas do céu

E para onde eu irei
Com toda a minha aflição?
Vendo o suplício de um rei
Sofrendo como um ladrão...

Vê se descansa menino
Sua jornada muito longa é
Vai alterar meu destino
E o de milhões que se porão de pé

Vencendo a morte e o pecado
Seu reino não terá fim
Mas, nesse dia é você
QUEM VAI CUIDAR DE MIM!


Letra da canção de Maria, quando do nascimento de Jesus. É a canção que encerra o primeiro Ato do musical “ Maria, mãe de Jesus”. Pra vocês sonharem um pouco comigo...

terça-feira, 23 de junho de 2009

CANTAR PARA CONTAR:
VEM FICAR COMIGO
Allison S. Ambrósio
Foi há muito tempo atrás. Eu estava indo à casa de uma amiga muito querida, no bairro Cruzeiro Novo, no Distrito Federal. Eram mais ou menos oito da noite quando me aproximei do prédio que estava às escuras. Um black-out qualquer, bem comum naquele tempo naquela região e eis toda uma quadra residencial contemplando o brilho das estrelas. Se todos fizeram isto, eu não sei. Ela fez.

Ao olhar na direção de seu apartamento pude ver sua silhueta, sentada na janela de uma forma que me pareceu no mínimo estranha. Observando melhor percebi que sua disposição era a de apenas desfrutar daquele céu brasiliense sem nuvens, cujo brilho das estrelas era realçado pela falta de energia elétrica. Seu corpo estava ancorado na janela, enquanto seu coração ia longe...

Aquela visão, ao contrário de me parecer romântica foi de intensa carga reflexiva. Vi-me naquela experiência, como que pegando emprestado aquele seu momento para me perceber, tendo a oportunidade de passar a limpo minha trajetória até ali. Além dela, resolvi devanear e pensar sobre pessoas que, diferente de solitude enfrentam profunda solidão. Em tempo: solitude é o ato voluntário de se afastar, de experimentar um tempo isolado de todos. Solidão é a ausência não desejada, não programada, contingenciada pela falta de pessoas queridas ao redor. A solitude fortalece a serenidade; a solidão adoece o espírito.

Na solitude somos encorajados a refletir sobre nossos movimentos na vida e pela vida, enquanto na solidão somos arrastados impotentes, em direção a uma mórbida indolência e desesperança. Na solitude percebemos as falhas cometidas, com o propósito de ajustar novamente o foco e seguir adiante. Na solidão somos tentados a nos alimentar dos erros, quais manjares indispensáveis ao nosso projeto de autodestruição. Na solitude somos construídos. Na solidão, dissolvidos. Da solitude saímos para o enfrentamento da vida. Na solidão tememos o minuto seguinte. O personagem do meu devaneio estava solitário. Foi quando comecei a cantar as primeiras letras:

ÀS VEZES INSEGURO, TENTO ACHAR UM JEITO
PARA ENTÃO FICAR SOZINHO
E NESSAS HORAS PENSO EM MIM TÃO IMPERFEITO
ORGULHOSO E TÃO MESQUINHO

Porém, longe de ser algo querido ou buscado, a solidão chega e usurpa seu espaço, tornando-nos réus e verdugos de nós mesmos. O orgulho nos cala, a ponto de não conseguirmos gritar às pessoas mais próximas o quanto estamos sofrendo, o quanto nos seria preciosa qualquer demonstração de carinho, de afeto ou outro gesto que nos faça perceber incluídos. O desespero aumenta, na medida em que nada encontramos. A ninguém encontramos, percebendo assim que teremos que agir e reagir segundo as poucas forças que ainda nos restam.

O Dr. Dráuzio Varela, escrevendo sobre o presídio Carandiru, verdadeiro depósito de seres humanos em São Paulo e agora desativado, registrou a história de um detento que traficava heroína ali. Para explicar a maneira de produzir seringas de aplicação da droga, o preso respondeu: “segundo recursos próprios de mim mesmo”. Achei interessante aquela resposta. Ele era o fornecedor e o cliente. Da manufatura ao consumo, ele só podia contar consigo mesmo. Parece o solitário da nossa história. Um tipo parecido com o descrito por Paulo, o apóstolo em sua carta aos Efésios: “não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef. 2:3).

É quando se busca nos porões da alma, qualquer coisa que nos habilite, nos credencie a continuar lutando, insistindo com a vida, em um debater-se teimoso e apaixonado. Meu personagem, pinçado daquele quadro, daquela janela, daquela amiga era assim. Ele vasculhava o mais profundo de si, em busca de algo que o convencesse que, como a canção de a Angela Rô Rô, “a vida é bela, só nos resta viver”. Foi assim que pensei ao prosseguir:

E ME DEFENDO, TENTO ME ESCONDER DA MENTE
QUE ME FERE E ME CONSOLA AO MESMO TEMPO
TENTO PENSAR NAS COISAS BOAS PRATICADAS
MAS, COITADAS, POUCAS, LEVADAS AO VENTO...

Claro que não era o caso, nem meu nem dela que, ao contrário do meu devaneio aproveitava aquele momento para dar asas a sua imaginação e fazer também uma pequena canção. Na verdade, nem sei o porquê de eu ter pensado em alguém como esse “eu” que se esconde detrás de muitos rostos bonitos e que esbanjam vitalidade. Quanta miséria há por trás de sorrisos brilhantes e falas macias, na guerra perene do ego ao mascarar quem nós somos verdadeiramente.

Em um velho programa humorístico, vi um quadro que não mais esqueci. Duas mulheres da alta sociedade que se encontraram e, depois dos clássicos e plásticos beijinhos à distância, uma diz à outra: “Querida, fico sempre encantada com você! Nunca consigo encontrar você sem estar sorrindo bastante. Acho formidável seu bom humor!”. Ao que a outra respondeu: “Querida, não é que eu esteja sorrindo sempre. Com a plástica que fiz, fico assim o tempo todo! Agora mesmo, por exemplo, EU TÔ CHORANDO PACAS!”.
Sempre que penso nos comportamentos afetados, dissimulados que encontro vem à minha mente esse quadro. É a fotografia do nosso tempo, quando não se pode acreditar no que as pessoas nos apresentam de si mesmas sem conferir antes sua veracidade. E, ao perceber-se assim, meu personagem da canção se sente ainda pior:

ME ADMITO ASSIM TÃO MAU, TÃO PERVERTIDO
ME ACHO MEU PRÓPRIO INIMIGO...

Mas, a miséria retratada sem a graça de Deus para contê-la torna-se a maior desgraça que alguém possa experimentar! É por isso que outro texto de Paulo é tão reconfortante, quando afirma que “onde abundou o pecado, superabundou a graça!” (ver). Somente a graça de Deus me permite enfrentar os meus medos, os meus monstros interiores e não adoecer na alma. Ela não me exime da realidade, quem sou realmente e como estou no momento presente, mas abre uma porta inefável de alívio e redenção a partir de Cristo Jesus, o seu filho. Não há constatação de fracasso, de impropriedade ou desvalorização que se sustente, ante a paixão demonstrada no calvário. Sendo assim, a resposta para esse personagem que não é ninguém mais que algumas nuanças de nós mesmos não poderia ser diferente:

E O MEU REFÚGIO ENCONTRO EM CRISTO
E ASSIM INSISTO: Ó MEU DEUS
VEM FICAR COMIGO!

Em uma das cenas de minha infância, recordo uma historinha que havia em meu livro escolar. Um porquinho rosado e alegre se afastou dos seus irmãos e, conseqüentemente de sua mãe. Um cachorrinho que rondava o grupo, ao perceber o afastamento do pequeno animal correu em sua direção, querendo mostrar sua superioridade. O porquinho assustado retorna correndo, buscando de sua mãe a própria legitimidade, a sensação de pertencimento e autoconfiança. Ao sentir-se seguro novamente, ele se volta para o cãozinho e o enfrenta. Sabe que nada mudou em si mesmo, a não ser a confiança renovada de que não está só. Acho que é isso mesmo que precisamos lembrar. Cristo sempre está perto. Ele prometeu. Está a uma oração de distancia, de um servo que pede humildemente: VEM FICAR COMIGO?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

ACHO QUE VOCÊ É UM SALMISTA...


Quando menino, em minha pré-adolescência brasiliense eu era chamado de “azul”, “cabeça-de-palito-de-fósforo”, “de - noite” e vários outros apelidos que agora não lembro. Em alguns casos eu ralhava com o desrespeito. Era pior. Aí é que o apelido grudava mesmo. De todos os que duraram algum tempo, o que mais ficou foi uma contração até certo ponto carinhosa do maior deles: “palito”.

Lembro-me do “Saulogate” me chamando assim. Ele, por sua vez recebeu o apelido estranho, em razão de ter sido pego furtando um caderno em sala de aula. Era a época do escândalo do partido republicano norte americano, que foi conhecido como o “escândalo de Watergate”, culminando na renúncia do presidente Richard Nixon. E o Saulinho abriu caminho para o nascimento do Saulogate!

Nunca me aborreci realmente com os diversos apelidos que, ao longo dos anos eu fui colecionando. Até porque eu sempre gostei do nome que meu pai me deu, embora ele mesmo me dissesse um dia que não sabia o seu significado. Depois de saber que os nomes das minhas irmãs tinham belos e bíblicos significados, fui procurá-lo e perguntar. Ele me disse que não me deu esse nome por algum motivo especial. Aliás, ele estava esperando minha mãe no hospital, já em trabalho de parto, quando começou a folhear uma revista de motores e turbinas. Foi assim que descobriu o Turbo Allison, definindo então qual deveria ser o meu nome.

Não gostei nem um pouco da explicação, ainda que tenha gostado de saber que meu nome estava associado a uma turbina de avião. Mesmo assim, achei melhor pensar em alguma explicação mais clássica. Encontrei-a nos Estados Unidos, com suas expressões idiomáticas interessantes. Em inglês, meu nome se torna uma delas: All is on (Está tudo em cima!). Muito melhor! Está tudo bem, está tudo em cima comigo! Adotei essa expressão para mim.

Depois que li um versículo especial na carta de Paulo, o apóstolo aos filipenses, no capítulo quatro e versículo onze, eu tentei mudar um pouco a forma de olhar a vida: “aprendi a viver bem em toda e qualquer situação”. Estar bem em qualquer situação não significa de modo nenhum que as coisas vão melhorar magicamente, apenas porque pensamos positivo. Significa que, a despeito de tudo vamos tentar preservar uma boa perspectiva em todas as situações.
É extremamente difícil, mas vale à pena o esforço. Foi assim que aprendi a fazer música das minhas dores, ansiedades e angústias. Alguns dos maiores clássicos “lá de casa” surgiram das tristezas que senti e, não fosse a minha poesia, estariam agora no esquecimento do tempo que passou. Agora, além de me mostrarem como foi que saí do atoleiro que me propunham, as canções desse tempo têm ajudado a centenas de outros que as acessam através dos CDs que eu produzo depois.

Estava conversando com uma irmã sobre a vida, sem perceber a quantidade de vezes em que me reportava às canções que escrevi durante esse período. A música e a poesia já há bastante tempo se tornaram características da minha resiliência, da minha teimosia em continuar lutando depois de vários golpes sofridos. “Acho que você é um salmista”, ela me disse, depois de escutar mais uma das minhas canções.

Fiquei lisonjeado com essa observação, embora a imaginasse um tanto imprópria no meu caso. A primeira idéia que fiz ao escutar a mulher foi a de Davi, Moisés, Asafe e todos os que escreveram o livro dos Salmos, que depois foram compilados e organizados pelo Rei Ezequias de Judá, dando para eles a disposição de capítulos, como hoje conhecemos.

Depois de um tempo pensei melhor e consegui perceber o que ela disse realmente. Que salmista é aquele que consegue lapidar sua dor imediata, tornando-a uma arte perene. Aquele que aprendeu a chorar com estilo, cadência e simetria. Sente dor como os outros, embora a exprima com sentimento e rima. Salmista é todo aquele que consegue orar, como Myrthes Matias, em sua poesia “Ao Senhor dos Pequeninos”:
“Faze-me Senhor pequena ostra
Que em pérola transforma sua dor
Podendo transformar o meu problema
Numa mensagem em forma de poema
Capaz de transmitir paz e amor”

Sendo assim, aceitei a comparação honrosa que me foi feita, acrescentando em meu coração que salmistas todos nós somos, apesar de que alguns não tenham ainda percebido isto. Se fizermos pérolas das nossas dores, seja escrevendo uma crônica, seja fazendo uma rima, seja pintando um quadro ou escrevendo uma canção, sem perceber estaremos nos tornando os salmistas do século vinte e um. Um dia, quem sabe, irão contar a história do nosso tempo a partir dos nossos lamentos, da nossa arte, das nossas dores transformadas em canção.

E o mais precioso dessa experiência é percebermos o quanto as pessoas se identificam com aquilo que compartilhamos. Algumas pessoas se aproximam de mim e dizem: “Por favor, canta aquela minha música?”, referindo-se a uma das canções que eu compus e que lhes falam diretamente ao coração. Da mesma forma que eu me acostumei a me identificar com os Salmos de Davi e todos os que escreveram esse belo livro da Bíblia. “Acho que você é um salmista”, ela disse. Acho que faltou eu responder: “Sou sim. Igualzinho a você”!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

VALENTINE

DAY!



Tenho me dado conta da facilidade que desenvolvi em guardar datas. Não qualquer data, mas aquelas que são significativas para mim. E, a partir das datas que me vêm à lembrança resolvi contar para vocês essa história.

10/01/85 – Morávamos em Valparaizo de Goiás, a cinqüenta quilômetros do Plano Piloto em Brasília. Eu havia chegado pouco tempo antes, de volta do Rio de Janeiro, um pouco mais desiludido e frustrado que quando parti. No semestre anterior havíamos participado de uma ópera maravilhosa, escrita por George e Ira Guershwin, “Porgy and Bess”, apresentada a primeira vez em 1935, eternizando a cena em que Clara, esposa do pescador Jake está embalando o seu bebê e cantando a mais conhecida de todas as canções dessa peça:


Summertime, and the living is easy
Fish are jumping and the cotton is right
O your daddy is rich and your mommy is good looking
So rush, little baby, don’t you cry…


Naquela manhã, mais ou menos às dez horas meu pai chegou de São Paulo, para onde viajara logo após sair da empresa em que trabalhava em Brasília. Recém Formado em Direito, tinha aberto seu escritório pouco tempo antes e, com o dinheiro da indenização que recebera comprou um Chevrolet Caravan, modelo 1978, dourado. A proposta era de viajarmos naquele mesmo dia para Fortaleza, no Ceará, lugar para onde minha irmã Eloá tinha se mudado com o Marido e dois filhos, Rebeca e Tiago, no ano anterior.

Lamentavelmente, minha irmã havia perdido seu filhinho de apenas um ano e meio, vítima de uma pneumonia severa que lhe abateu em junho de 84. O objetivo do meu pai era fazer-lhe uma surpresa e ajudar a consolar seu coração com a nossa chegada. Lá em casa era assim: para viajar não mediamos distâncias. Às quatro da tarde já estávamos dentro do carro, em direção àquela cidade misteriosa para todos nós. Iríamos conhecer in loco a provação nordestina, como era comum se referir àquela parte da federação.

12/01/85 – Chegamos a Fortaleza no começo da tarde, cumprindo assim uma jornada de quase quarenta e oito horas de viagem. Eloá nos recebeu chorando muito de alegria. Foi uma coincidência feliz o fato de a Igreja Betesda, na qual ela e seu marido Domingos trabalhavam estar inaugurando seu templo, na rua Dr. José Lourenço, paralela com a Avenida Barão de Studart. Quando chegamos ao culto, fomos surpreendidos por uma enorme tenda azul e branca, vanguarda absoluta em termos de templo cristão no lugar. Linda, a igreja parecia uma nave espacial, que logo chamou a atenção da sociedade cearense.

Abarrotada de pessoas, era impossível entrar na igreja naquela noite. Porém, minha irmã deu a volta na tenda, entrando pelos fundos que davam acesso ao púlpito e, conseguiu se aproximar do pastor Ricardo Gondim, presidente da Betesda e falou sobre mim:

- Pastor, meu irmão chegou de Brasília e está aqui hoje. Ele toca piano. Talvez possa nos ajudar na igreja. O que o senhor acha? O pastor imediatamente mandou me chamar e assim pude entrar na Betesda pela porta dos fundos, ou seja, já comecei pelo púlpito! Foi o primeiro contato com a comunidade que deveria, a partir dali, mudar radicalmente a minha vida.

Quinze dias bastou para que nos apaixonássemos pelo lugar, suas praias de água morna, sua temperatura constantemente alta, sua água de coco gelada e o peixe mais gostoso que já provei – o pargo inteiro, servido com baião-de-dois, paçoca, batatas fritas e queijo de coalho. Fui apresentado aos sucos exóticos de siriguela, cajá e graviola, aprendi a comer caranguejo e rapidamente me vi cercado de pessoas maravilhosas da igreja. Entre elas, Jacqueline.

Jackie, como eu logo me habituei a chamá-la era uma espécie de filha adotiva do Ricardo e da Gerusa. “Mudava-se” para a casa deles nos fins de semana, devido as muitas atividades da igreja, o que tornava prático o seu acesso. Como grande parte das pessoas ali, estava terminando seu curso de inglês, além de estudar no curso de Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Com cabelos cacheados e curtos, logo chamou minha atenção, que aumentava cada vez mais, na medida em que estudávamos juntos – Ela me ensinava inglês e eu lhe ensinava piano. Mal sabia eu a importância que essa mulher teria em minha vida.

15/03/85 – Foi quando nos mudamos definitivamente para Fortaleza. Depois de voltarmos à Brasília, vender o que tínhamos decidimos voltar ao Ceará. Lembro-me com a clareza do sol ao meio dia, os primeiros sentimentos ao chegar novamente à cidade. Quando vi a placa indicativa de que havíamos chegado ao nosso destino fiz uma pequena oração, pedindo a Deus que me ajudasse a fazer meu nome ser respeitado naquele lugar. Não sei por que, mas senti necessidade de orar assim.

Daquele piano que toquei na primeira noite nunca mais saí. Tornei-me o líder do louvor da igreja, indo assim direto para um ministério na Betesda. Pastor Ricardo tornou-se logo de cara um referencial para minha vida. Passados vinte e cinco anos de convivência, ainda hoje eu celebro o dia em que o conheci. Amo profundamente ao homem que participou ativamente dos momentos mais emocionantes da minha história a partir de então.

20/04/85 – Era um sábado. Havia uma reunião dos jovens da igreja, liderados pelo Carlos Eugênio. Depois da reunião estávamos nos organizando para conhecer uma nova lanchonete que havia na cidade. Era em um centro católico de evangelização chamado Shalon. Eu ainda estava conversando com uns amigos quando senti a mão do Ricardo me envolver em um abraço, guiando-me até onde a Jackie estava. Não disse nada, apenas segui obediente ao meu líder. Ao chegar ali, ele formalmente nos apresentou:


- Allison, esta e a Jacqueline. Jacqueline, este é o Allison. VAMOS NAMORAR, NÉ GENTE?
Jacqueline enrubesceu, abrindo um sorriso envergonhado enquanto olhava para mim. Eu sorri e, num gesto quase reflexo disparei:
- Olha minha irmã, a Bíblia manda que obedeçamos aos nossos pastores! Ricardo soltou uma de suas risadas gostosas, compreendendo que eu havia captado a mensagem perfeitamente. Ele saiu de perto, mas nós continuamos.

Fomos juntos à lanchonete e naquela noite nos beijamos a primeira vez. Era o início de uma relação que dura até hoje. Senti desejo de contar pela força do dia em que se comemoram os namorados. Temos conseguido namorar através desses anos todos, o que me deixa muito feliz em saber. Claro que atravessamos crises agudas, sendo feridos por causa de algumas pedras pontiagudas que sentimos na estrada. Mas, ao avaliar a caminhada até aqui, assumo que valeu à pena e continua valendo.

Sei que estou longe de ser o marido ideal, com minhas manias, minhas neuroses e ambigüidades. Mas, percebo que a Jacqueline consegue estimular o melhor de mim. Consegue ver em mim capacidades que às vezes esqueço ou não percebo. Ela com certeza me faz querer ser um homem melhor a cada dia. Celebro hoje, no dia dos namorados, uma mulher encantadora, linda, versátil, moderna, inteligente e sensível que a vida tem me dado a honra de chamar de esposa.

Jackie, eu amo você. Feliz dia dos Namorados!

terça-feira, 9 de junho de 2009

PUXE A CORDINHA!
Allison S. Ambrósio

Eu estava mergulhado em reminiscências, nostalgias e devaneios, meus companheiros prediletos nos momentos de solitude. Ela chegou de repente, com um ar grave bem diferente dos seus ares naturais. Uma amiga da nova safra, de uma pureza quase totalmente infantil, dentro do corpo de mulher feita.

Vinha triste, pois ouvira de um parente próximo uma série de “profecias” ruins: “você é uma psicopata, uma doença, um demônio! Vai morrer de câncer igual à megera da tua tia!”. Lágrimas escorriam de seu rosto, a cada pausa em sua narrativa. E eu? Eu fiquei ali, pasmo de perceber a enfermidade da alma de quem feriu tão profundamente aquela moça.

Não resisti e contei na hora de consolá-la, a historinha do japonês e da bomba. Ouvi dizer que, depois da bomba de Hiroshima explodir, quando procuravam sobreviventes dentre os destroços encontraram um japonês com as calças arriadas até aos joelhos, uma pequena cordinha em uma das mãos e gritando desesperado: “Não fui eu! Não fui eu! Eu só puxei a cordinha!”.

Ela riu gostosamente e, como criança inocente parou imediatamente de chorar. Expliquei que sua preocupação era a mesma do japonês, responsabilizando-se pela atitude dos outros. E quem foi que lhe disse sobre você ser mesmo aquilo que pensam de você? Continuei explicando que muitas coisas que são ditas sobre nós são tão estapafúrdias e despropositadas, que só nos resta fazer o mesmo que o japonês ao puxar a cordinha. Porque tais informações são tais e quais ao material que o motivou a dar descarga em seu aparelho! Não temos que deixar grudar em nossos corações as pragas que nos são arremessadas.

Àquela pessoa eu acho que consegui salvar, mas, e as milhares de outras que, por não puxarem as cordinhas afundam cada vez mais em sua dor, seu complexo ou trauma? Quem irá consolar as que estão sendo marcadas de uma forma tão cruel que as acompanhará até o fim de suas vidas tristes?

Contei para ela sobre meu irmão mais velho. Quando ele tinha quinze anos de idade e eu apenas sete, ele apareceu lá em casa com um lindo violão. Era um daqueles do tipo sertanejo, cheio de pequenas “peneiras” prateadas, como eu costumava chamar. Ele deu uma ordem taxativa ”Não quero ninguém mexendo no meu violão!”. Ordem dada... IGNORADA! Foi só ele sair para trabalhar que eu abri o armário onde estava o instrumento. Fiquei tocando secretamente durante quase um ano, aprendendo sozinho. Até que tentei afinar o violão. Três cordas arrebentadas depois, vários cascudos do meu irmão e pude me revelar ao mundo!

Mas, o que tem a ver com a história que venho desenvolvendo até aqui? O fim da minha primeira experiência com o violão. Meu irmão, após me agredir com cascudos “profetizou”: “Você nunca irá tocar violão! Você é aleijado! Você é esquerdo! Você não sabe nem segurar o instrumento!”. Eu poderia ter terminado minha carreira ali mesmo, não fosse o fascínio que me causou os sons que aprendi a produzir. Lembro-me de ter respondido, ainda massageando a cabeça dolorida: “Pode deixar, que você ainda vai me ver tocando mais do que você! ”.

Ou seja, puxei a cordinha e deixei ir embora esgoto afora, aquelas palavras tão motivadoras que escutei! Hoje, quinhentas composições depois e vários violões que já tive oportunidade de possuir, percebo o quanto é importante saber descartar certas afirmações, certos vaticínios ao nosso respeito. Se realmente temos o controle de nossas vidas, por que deixar que alguns amargurados a adoeçam, com pragas lançadas pura e simplesmente com o propósito de vomitar suas próprias limitações? Puxe a cordinha!

Terminei de contar essa história para a minha amiga do início do texto. Percebi que ela estava muito melhor do que quando chegou. Fiquei feliz também, pois consegui transformar algo que poderia ter sido nocivo ao meu coração, em anticorpos para debelar as bobagens que nos são atiradas pelas bocas irresponsáveis que tagarelam ao redor de nós!

Aliás, hoje eu toco violão melhor que o meu irmão... Desculpe, mas até para esse tipo de gabolice... PUXE A CORDINHA!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

INFRAÇÃO DE VIDA!
Allison S. Ambrósio

Fui visitar uma mulher no hospital. Não havia nada que ela pudesse fazer para me retribuir a visita, ou a atenção que lhe estava dispensando. Na realidade, trata-se de uma pessoa que precisa desesperadamente de ajuda. Dependente química, moradora de rua eventual e abandonada pelos próprios filhos, viu-se adoentada de pneumonia e encostada sobre uma maca nos corredores de um hospital público.

Caminhar pelo corredor até o lugar onde ela deveria estar foi uma das provações mais fortes que tive no dia. Rostos desfigurados pela dor, olhos fundos e vítreos de desesperança e silêncio... Não o silêncio da paz no descanso, e sim o silêncio do abandono e da solidão, companheiros freqüentes desses lugares.
Ela não estava lá. Já havia saído para mais uma bateria de exames, devido a um inchaço no abdome. Confesso ter sentido um pequeno alívio. Seria hipócrita se não admitisse. Apesar da necessidade pastoral de estar ali, nem de longe eu reputaria como um exercício fácil para mim. Queria sair dali o mais rápido possível, de preferência sem olhar muito nos olhos daquelas criaturas, pela horrível sensação de impotência que me habitava. Gostaria de poder tocá-las com cura, com solução definitiva, com esperança. Ao empreender minha fuga interior percebi estar fugindo de mim mesmo, dos meus medos e das minhas enfermidades na alma.

Cheguei até o meu carro no momento em que o guarda estava terminando de lavrar uma multa por eu ter parado no lugar errado, na hora errada. Tentei argumentar que era um líder cristão em missão de socorro a uma pessoa, ao que ele respondeu que uma atitude certa não justifica outra errada. O bloco já havia sido marcado e não dava mais para voltar. Uma ira me subiu ao coração, daquelas que a gente sente sem deixar o interlocutor sequer perceber. Afinal, de onde saíra uma primeira multa poderia sair outra por desacato!

Senti-me injustiçado. Achava-me em uma situação onde aquilo parecia inadequado. Um sacerdote em serviço deve estar acima do bem e do mal. Não posso ser julgado por autarquias terrenas, que não discernem “as coisas espirituais”. Mas, e se ele me perguntasse a guisa de buscar razão para cancelar a multa, como foi meu desempenho no hospital? E se, por um bambo do universo, crise de honestidade, uma ação pedagógica de Deus ou coisa que o valha, eu resolvesse dizer com sinceridade e riqueza de detalhes como foi?

“Bem, cheguei e a mulher que eu iria visitar não estava, o que me deixou aliviado, porque eu mesmo não via a hora de sair daquele lugar tão depressivo. Ao retornar pelo corredor das dores, não deixei de perceber um homem com dois enormes nódulos no queixo e no supercílio esquerdos. Fiz-me de morto, com medo de que ele percebesse que eu estava ali para, entre outras coisas consolá-lo. Vi uma menina, cujo papel sobre sua maca indicava problema ortopédico, mas, como estava com um celular em punho, achei que estaria bem , apenas conversando com quem quer que fosse, menos comigo. Vi um homem arfando de dor, reclamando de problemas no coração. Esse sim, quase me fez parar e orar! Esperto, dobrei rapidamente em direção à porta e consegui sair ileso!”.

Ao final de minha narrativa, contemplando, talvez, o rosto decepcionado do guarda que, queira ou não estava apenas cumprindo o seu papel, acho que eu mesmo lhe diria envergonhado: “PODE LAVRAR MAIS UMA PRA MIM, POR FAVOR?”

domingo, 31 de maio de 2009

PARA REFLETIR:

Prefiro fracassar em algo que gosto de fazer a ser bem- sucedido em algo que detesto.

George Burns
RUMO CERTO
Allison S. Ambrósio

SINTO PRAZER AO PERCEBER
QUE SOU NOTADO POR VOCÊ
SEU INTERESSE EM ORIENTAR O MEU DESTINO
SINTO ALEGRIA EM CONSTATAR
A SUA VOZ A ME GUIAR
TAL PAI QUE LEVA PELA MÃO
A SEU MENINO

SINTO PRAZER AO PERCEBER
SUA PRESENÇA AO MEU REDOR
NO ACOLHIMENTO DA MANHÃ QUE ME DESPERTA
CELEBRO O TEMPO DE VIVER
POIS SEMPRE QUE EU TE PROCURAR
É CERTO QUE VOU ENCONTRAR
A PORTA ABERTA

SINTO PRAZER EM TE OUVIR
NO ACORDAR OU NO DORMIR
E AO DESPERTAR NOTANDO QUE VOCÊ ESTÁ PERTO
E MESMO SEM EU CONHECER
O QUE ME ESPERA LOGO ALI
SEI QUE O MEU DEUS VAI ME GUIAR
NO RUMO CERTO

sábado, 30 de maio de 2009

LUZES E SOMBRAS
Allison S. Ambrósio


De que adianta você se aproximar de mim por medo
Se de outro jeito eu não teria o seu temor
Acho melhor você saber logo o segredo
Deixa todo medo quem vive um verdadeiro amor
Não quero ter uma relação utilitária
Em que o esforço visa só agregar valor
Um toma-lá-dá-cá, situação tão temerária
Posto de troca e não servo e Senhor

Estou buscando alguém de verdade
Que consciente em sua limitação
E enquanto luta por integridade
Quer agradar-me com adoração
Trava uma luta entre luzes e sombras
E não esconde seu lado ruim
Mas me conhece e percebe que o meu amor
É algo que vale sentir de mim
É algo que vale querer de mim
É algo que vale buscar...
Em mim!
(escrito em Natal-RN, em 26/10/2008)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

REDESCOBRINDO A AMÉRICA!

Foi uma experiência prá lá de edificante, minha viagem para os Estados Unidos da América. Cumpri uma agenda cheia de apresentações variadas, conheci novas pessoas e tive muitas alegrias. Fui carinhosamente recebido por onde passei e me diverti bastante nesses lugares. Sou grato ao Senhor por me permitir viver esses momentos de grande prazer e felicidade. Li recentemente que felicidade não é fruto de grandes momentos emocionantes da vida, e sim dos milhares de pequenos momentos aos quais damos significado.
Foi o que ocorreu comigo. Desde a chegada à casa do Manoel e Ana Oliveira, anfitriões acima de qualquer média que se pudesse estabelecer para atenção, cuidado, diligência e carinho, além da companhia sempre bem humorada da Sara e do Pedro, filhos deles, nossa viagem para as montanhas de New Hampshyre,onde aconteceu o primeiro compromisso na América – o retiro de todo o ministério de artes da New Life Presbiterian Church.

Ao retornarmos de lá, já no domingo estávamos todos juntos para uma grande celebração no suntuoso templo da New Life, no centro de Framingham. Muita música, muita alegria e emoção, na celebração que se pode desfrutar entre amigos sinceros e irmãos de verdade. Depois, a maratona de programas de rádio: Maraberto, com o Robertinho e a Mara Rúbia. Foi delicioso! Conversamos sobre canções e grupos antigos e a necessidade de se aumentar a qualidade técnica das canções e o nível das poesias. Depois, Pare e Pense, com o Pastor Manoel de Oliveira e Cia. Discutimos sobre os conteúdos pobres da música evangélica atual.

Quarta-feira estive em Cambridge, na Christ The King Presbiterian Church, uma igreja fundada por alunos brasileiros e americanos de Harvard, a famosa universidade a duas quadras dali. Foi uma noite memorável com Naamã Mendes e Juliano Soccio. Cantei acompanhado de violão Ovation 12 cordas, harmônica e guitarras. Ao final, um paozinho de queijo com café-com-leite, para confirmar a hegemonia mineira da comunidade brasileira no solo norte americano.
Quinta-feira foi o tempo de lançar-mos base para vários projetos que queremos ver acontecer nos Estados Unidos: livros infantis, CDs de cânticos congregacionais, de reflexões , de salmos, livros sobre temas como dignidade, organização pessoal, shows e mostras culturais. Ufa! Haja energia e expectativa para tudo o que sonhamos!
Sexta-feira iniciei o congresso de jovens da Igreja Vida, em Medford. Salmon e Milene estão a frente daquela comunidade dinâmica e cheia de energia. Luiz e Quésia, líderes dos jovens é que estavam à frente do evento, que me marcou por várias razões diferentes, entre elas, a apresentação de um grupo vocal maravilhoso chamado “One in Christ”, liderado por Grace Kely, uma cantora excelente e flautista com formação na Bekerley, uma das mais importantes escolas de musica nos Estados Unidos. Foram momentos de puro êxtase e alegria.

Domingo pela manhã estive em Malboro, com José Antonio e Andréia. Com uma viola 12 cordas e dezenas de nostálgicos cantores de hinos anitgos, foram quase duas horas de canções regadas por um choro saudoso de tempos que não voltam mais. Era até engraçado ver alguns homens que deixavam rolar copiosas lágrimas dos olhos, recebendo o consolo e o ombro parceiro de suas esposas igualmente emocionadas. Amei muito viver aquele momento!

À noite, de volta a Medford houve o encerramento do congresso. Verdadeira festa! Cancções agitadas e alegres, apresentações bem preparadas e uma atmosfera de puro louvor. Comunhão, testemunhos e novos amigos marcaram esse tempo precioso. Foi uma viagem que não conseguirei esquecer!

Segunda-feira foi o momento de organizar as coisas e levantar acampamento rumo à minha terra, minha casa e minha família. Agora é só refletir sobre tudo o que aprendi, compartilhar com os amigos as experiências que tive ecelebrar o fato de que consegui acrescentar à minha história centenas de novos momentos felizes!
COMO É RUIM NÃO COMPREENDER AS PESSOAS!

Cheguei às 17:40hs no aeroporto Dulles, em Washington. Ao sair da aeronave procurei um lugar tranqüilo para me sentar e avaliar a viagem até aqui. Criei um início de tensão, ao permitir que a entrevista feita por Mara Rúbia, da Maraberto Publicity para o meu novo site SONDA-ME. COM se estendesse um pouco mais que o recomendável. O vôo saía de Boston às 16:27hs e somente às 16:10hs é que eu estava entrando no portão de embarque.

Havia me esquecido da demora em embarcar nos vôos internacionais a partir dos Estados Unidos. Há todo um cerimonial a ser observado, como descalçar-se e colocar os sapatos nas bandejas, abrir a bolsa com o Lap Top e, no meu caso específico, abrir ainda a malinha que trazia, em razão de um brinquedo que eu não quis retirar da caixa - 16:18hs. A sorte foi que o acesso aos portões era a partir do no. 11, enquanto meu portão de embarque seria o 14. Cheguei a tempo.

Outro inconveniente: a aeronave era pequena, o que significava não haver muito espaço para bagagem de mão no interior, especialmente quando se é o último a embarcar! Diria que é uma sina essa minha problemática com vôos. Não há uma viagem tranqüila que eu consiga fazer, sem contar as coisas que acabo deixando para trás, mesmo depois de ter feito uma lista extensa e (quase) completa sobre tudo que preciso.

Descobri que preciso fazer um curso de inglês. Essa história de saber apenas “para minha sobrevivência” já me ensinou que posso precisar de um pouco mais que apenas sobreviver! Uma palavra que me foi dirigida por um funcionário, a quem não respondi por não entender corretamente. Uma instrução mal compreendida que me fez gastar $10 dólares a mais e, finalmente, o desejo de conversar um pouco com a companheira de viagem ao meu lado e o medo de “travar” a língua em uma construção mal feita ou um diálogo quebrado.

Encontrei o local do novo embarque, no avião que me levaria para São Paulo e ali estacionei. Ainda consegui falar um pouco com meus filhos Leonardo e Julie, embora descobrisse que o cartão de $10 dólares só me dá cinco míseros minutos de conversa. Ainda assim, precisei da ajuda de dois simpáticos mineiros (raros na América!) que me auxiliaram com a ligação. Claro que abstraí! Fiquei pensando justamente nisto: há pessoas que desejam falar, mas não sabem como fazê-lo! Há muitos que, como eu desejariam conversar um pouco, talvez apenas para passar o tempo, o intervalo de quatro horas entre a chegada a Washington e a partida para o Brasil.

Quantos se encaramujam em suas vidinhas pobres, pelo medo de não conseguirem expressar corretamente os seus sentimentos. Ou pior: não serem compreendidos e assim serem condenados pelos outros. Como é ruim não ter ninguém que nos compreenda! Como é angustiante não saber se expressar.

Por outro lado, que bom quando aparecem pessoas na hora “h”, como os mineiros da minha experiência, dispostos a não somente orientar, como completar eles mesmos a ligação.
Pessoas precisam de Deus. Pessoas precisam de pessoas...

quinta-feira, 26 de março de 2009

AO MEU CORAÇÃO OCORRE...
Allison da Silva Ambrósio – 26/03/2009*


Não foi um trovão que retumbou
Um relâmpago que despencou do céu
Nem foi um vulcão que despertou
Repentino mar que se enfureceu

Quando a gaivota atravessou
O meu céu de arrebol
Pouco tempo antes do nascer do sol
Não sei precisar ao certo
O momento em que se deu
Mas meu íntimo gritou: “É Deus!”

Ao meu coração ocorre: “Buscai o meu rosto...”
O teu rosto, Senhor, eu buscarei...

Não foi um trovão que retumbou
Um relâmpago que despencou do céu
Nem foi um vulcão que despertou
Repentino mar que se enfureceu

O perfume do eucalipto
Preencheu o meu pulmão
E a poesia aqueceu meu coração
Em um misto de ternura
Encantamento e amor
Foi que ouvi aquela voz interior

Ao meu coração ocorre: “Buscai o meu rosto...”
O teu rosto, Senhor, eu buscarei...

*(pedalando na Beira-Mar Norte em Floripa, às 6h:00m da manhã!)

sexta-feira, 13 de março de 2009

UM AMIGO ME DEIXOU...
Um amigo me deixou... E o cruel é essa suspeita de que ele não era tão amigo assim, pelo menos da forma de amizade que eu pensava que me tivesse. Veio me dizer da impossibilidade de caminhar comigo, da divergência de estilo, de liderança, essas coisas doloridas que quanto mais são explicadas, mais complicadas ficam de se entender. O dia escureceu logo cedo, no café que tomamos juntos e me foi dada a fatídica notícia.

Como aquele pai que, ao perceber sua impossibilidade ante ao filho drogado em sua frente fica repetindo sem parar: “o que foi que eu fiz? O que fiz de errado?”, assim passei o dia e permiti que o dia passasse por mim, reavaliando, lamentando, suspirando e todos os outros “andos” implícitos neste tipo de angústia. Lembrei-me de todas as vezes que fui preterido, ou, pelo menos a maior parte delas. Todas as decepções amorosas ou profissionais de que me lembrava, todas as afrontas sofridas como líder de ovelhas, como líder de pastores ou como liderado.

Algo pitoresco ocorreu: lembrei-me do primeiro trauma que tive com os humanos. Eu tinha nove anos de idade e a minha primeira namoradinha, sete. Você pode imaginar que tipo de namoro era possível a duas crianças com tais idades, no início da década de setenta (pois é, o tempo passa!). Mas, a lembrança foi boa para registrar minha primeira poesia de amor:

"E... por favor, chegue a uma conclusão
Fique agora, fique comigo
Ou suma do meu coração! "
(nove anos de idade! Quanta precocidade!)

Numa briga dessas comuns entre irmãos, o irmão dela pegou a poesia e a entregou para seu pai que, pasme você, levou tudo muito a sério! Não sei se bronqueou com a menina ou o quê, mas, no outro dia estava no culto de oração das seis da manhã, por saber que meus pais estariam também. Com sua mulher ele os chamou para o canto do templo, onde leu jocosamente a minha poesia. Por conhecer meu pai como conheço, até consigo imaginar o seu orgulho por dentro, sua comemoração pelo filho galanteador em tão tenra idade!

Depois de ler a carta, Dr. Andrade, pai da garota virou-se para os meus pais e desferiu: “Quero deixar claro que café é café, leite é leite. Não gosto e não quero misturar os dois”. Para um bom degustador, meia xícara basta! Minha mãe me chamou, não sei quanto tempo depois de passar por esse vexame. Eu estava jogando bola na rua de casa com os meus vizinhos. Como estivesse indo para o armazém me disse para acompanhá-la.

Com aquele tato abundante das mães e escasso nos pais, ela conseguiu falar tudo sem me machucar, embora deixando claro que eu estava proibido de me aproximar da menina. Só com o passar do tempo é que pude perceber a magnitude daquela ferida aberta em minha alma. Ainda não conhecia bem a divisão das castas pela cor da pele. A única coisa que percebia é que enquanto meu pai ia pra igreja de bicicleta, o pai da menina ia de Wolkswagen (o bom e velho fusquinha, que na época era “o cara”!).

Houve várias outras manifestações depois dessa em minha vida. Acho que me marcou mais por ter sido a primeira. Assim como a primeira impressão, a primeira mágoa, a primeira traição, a primeira perda, são sempre as primeiras coisas as que mais marcam a alma da gente. No caso do meu amigo, ele não foi o primeiro, embora fosse a primeira família a se afastar de mim, depois desse novo momento que estou vivendo. Talvez seja por isso que doeu tanto. Ademais, nem sei direito por que estou contando isto... Acho que é só para desabafar com quem só me lê por puro exercício de sua vontade ou benevolência para comigo! Mas, a vida continua. Não foi o primeiro... Não foi o último... Não foi...

segunda-feira, 9 de março de 2009

QUANDO A GENTE PENSA...
Que já tem todas as respostas,
vem a vida, fazendo novas perguntas!

(do nick de uma amiga, que li casualmente)

sábado, 7 de março de 2009

JUBINHA É NOTA 10!

Um ingrediente novo foi associado às minhas manhãs de exercício: um IPOD com algo entre um milhão e dois milhões e meio de músicas. É certo que estou exagerando, mas é que nunca são repetidas, desde que comecei a escutar esse presente – dentre tantos – que recebi da Silvia Geruza.

Ela é dessas mulheres absolutamente originais (nunca encontrei ninguém igual a ela), visceral, apaixonada, explosiva e triste, tudo junto, tudo batido no liquidificador da vida. Generosa, não há uma ocasião, por menor que seja, em que eu não esteja sendo alvo de sua bondade, dos seus mimos e, de vez em quando, até de suas ressacas emocionais!

Às vezes tenho vontade de lhe dar uns “catiripapos”, quando percebo que ela encanou com alguma coisa e dela não quer se soltar. Noutras, a lembrança dessa admirável mulher, estudante profissional por vocação e vício me joga pra frente, me faz acreditar que o tempo só é implacável para aqueles que não têm determinação e nem um plano a cumprir.

A programação musical do IPOD é um caso à parte: de Rod Stwart a Seu Jorge, passa por Zélia Duncan, chorinho, Djavan/Vercilo, Zizi Possi e vai, como diria o Lenine, “nas ondas do seu pensamento”. Jubis, como é chamada SOMENTE entre nós, os de casa, parece o slogan do Brasil do Garrastazu Médici: “Ame-a ou Deixe-a!”. Ainda bem que só o Slogan!

Pois bem: resolvi pagar o que devo. Pedalar na Beira mar norte da Ilha de Floripa é contemplar garças, gaivotas e muitos outros tipos de pássaros voando. É ver a velhinha que toma um sol no banco de concreto e o casalzinho se beijando no gramado perto do píer. É ver o maratonista correndo em seu treino habitual, é contemplar milhares de formas das nuvens sobre as montanhas ao longe. É sentir o vento frio que “vem lá do sul” e curtir uma sensação inigualável de felicidade e liberdade.

Tudo isso, regado a canções de todos os tempos, de todos os estilos e, conseqüentemente, para todos os momentos desse enorme caleidoscópio que é a nossa vida. Aí que entra a Geruza. Intensa, batalhadora, persistente e disciplinada, ele conseguiu montar um repertório “à sua imagem e semelhança”, que eu não me canso de ouvir e nem ouso alterar. Todas as vezes que vou correr ou pedalar com esse som no ouvido, lembro dela. Resolvi registrar. E como diz o Rod Stwart em uma das canções que ela gravou aqui...

HAVE I TOLD YOU LATELLY THAT I LOVE YOU?

sexta-feira, 6 de março de 2009

VALE À PENA LER
O texto a seguir é do meu amigo, líder e companheiro de sonhos, Ricardo Gondim, que deverá nos visitar neste blog de vez em quando. Só pra garantir a qualidade do livre-pensar. Aprecie sem moderação!

O deus que não é Deus
Ricardo Gondim

Existe um deus que não é Deus. O único com força para enfrentar a Deus. Essse deus não vive em alguma dimensão cósmica ou ponto do universo. Seu oratório é a mente humana. Ele é um deus familiar, pois vive nos espelhos da alma. Mesquinho, cobra desempenhos impossíveis. Inclemente, castiga as inadequações dos fracos com fúria. Ofendido por uma pessoa, dizima gerações inteiras. Imprevisível, age com um humor indetectável. Existe um deus que não é Deus. Capaz de ofuscar o próprio Deus, misturou-se em todas as religiões. Sanguinário, exige sacrifício para estender a sua compaixão. Impassivo, privilegia os eleitos e condena o resto. Indiferente, descarta a prece da criança quando não se encaixa em seus propósitos. Distante, volta as costas para os miseráveis em nome da coerência. Existe um deus que não é Deus. É possível encontrá-lo nos paços sacerdotais, nas leis canônicas, nas teologias que o sistematizaram. Ele vingou na religião e a cúrias já mapearam as suas ações. Sem bondade, ele defende a virtude. Sem graça, faz apologia da verdade. Os cristão sabem que ele existe; já provaram o fel de sua justiça na Inquisição. O homem-bomba de hoje testemunha o seu furor para os muçulmanos. Ele aparece em cada campanha de oração pentecostal para mostrar como é difícil ganhar o seu favor.
Existe um deus que não é Deus. Ele é uma divindade que não suporta ver Jesus almoçando com pecadores, bebendo vinho perto de mulheres suspeitas, elogiando pagãos ou prometendo o Paraíso para gatunos. Esse deus precisa desaparecer, pois é um ídolo malvado. E só com a sua morte nascerá o Salvador.
Soli Deo Gloria.

quinta-feira, 5 de março de 2009

COMO TATUAGEM

Eu já estava nos últimos quilômetros da minha pedalada matinal. Não significa que estava exausto, pois minha adrenalina estava a mil – a Jackie chegou de viagem ontem e a minha energia voltou! A ciclovia da beira-mar norte de Floripa continua a ser uma higiene mental potentíssima, com dezenas de gaivotas, garças e bem-te-vis. Gente bonita caminhando, correndo ou pedalando como eu. Foi nesse cenário que eu o vi.

Era um rapaz de, talvez, uns vinte e poucos anos, um pouco acima do peso, pele clara, bem falante entre outros três rapazes. Caminhava na mesma direção que eu, o que me possibilitou observar ao pedalar uma enorme tatuagem em suas costas. Uma aranha. Mas, era uma aranha diferente que, além de ser enorme, já havia tecido uma formidável teia ao seu redor. Sempre critiquei aos que pintam todo o corpo de forma irreversível. Dragões, caveiras com fogo nos olhos e na boca, serpentes peçonhentas ou surrealismos gigantes me transportavam para além, para frente, para o futuro, quando nada daquilo faria sentido e, no entanto, faria parte inseparável de suas existências. Não no caso daquela aranha. Havia algo de estranho naquela tatuagem.

Ao me aproximar mais pude perceber um brilho estranho que dela emanava. Algo meio aveludado na parte de trás do aracnídeo, bem como entre vários detalhes da teia, concedendo ao trabalho um quê de seda pendurada naqueles espaços. Foi quando o quadro todo se me apresentou. Metade das suas costas tinha sido queimada de tal forma que, não fosse aquela enorme tatuagem, ele jamais teria coragem de andar sem camisa como estava.

Fiquei encantado com a aranha. E impressionado com o rapaz! Como ele encontrou uma saída artística para o que poderia se tornar um trauma em sua vida. Apesar de não saber as causas daquela horrível queimadura, eu aprendi o valor de se contemplar possibilidades em calamidades, arte no caos, transformando o que seria intolerável em algo sensivelmente belo.

Foi minha lição da manhã. Até as cenas mais tristes e feias da nossa história podem se transformar em obras de arte, capazes de emocionar quem apenas passa ao redor. Daquela tatuagem eu gostei. Não foi apenas uma saída de mestre, e sim uma volta por cima, uma tomada de posição que altera completamente a circunstancia de quem a vive. Se fizermos sempre assim, o mundo viraria uma galeria de arte, nós seriamos mais felizes com as nossas histórias e aquilo que não queríamos sequer mencionar de tão feio, seria marcado pelo belo.

Como tatuagem.

terça-feira, 3 de março de 2009

DURANTE A AULA DO PEDRO!

Essa frase (se dele, não sei!) escapou na aula do Prof. Dr. Pedro Heliodoro Branco Tavares, pessoa que muito admiro. Achei legal repassar pra vocês:

"A normalidade é uma síndrome rara, que acomete um em cada seis bilhões. Geralmente, quem a define".

sábado, 28 de fevereiro de 2009

LÁ VAMOS NÓS OUTRA VEZ!

Sou assim. Cíclico. Acho que meu tempo escritor voltou com alguma força. O bastante para eu me dedicar a escrever novamente. Há um turbilhão em minha mente, pedindo passagem para a liberdade. Quero compartilhar coisas, gerar sonhos, prover sentido para as expectativas mais sublimes da alma.

Esse sou eu. Meio controverso, meio objetivo. Busco a cadência perfeita, o ritmo perfeito da vida. A harmonia ideal entre corpo, mente e espírito para me perceber bem-aventurado. Escrevo romances, poesias, canções e literatura infantil, com a variedade de sensações que me habitam.

Amo as coisas humanas dos humanos. Gosto de perceber-me imperfeito. Isto me faz humilde ao querer me projetar, ao mesmo tempo em que me torna mais condescendente com a fraqueza do outro. Acho que era isso... talvez venha mais... não sei... e estou gostando de não saber tudo!