sexta-feira, 12 de junho de 2009

VALENTINE

DAY!



Tenho me dado conta da facilidade que desenvolvi em guardar datas. Não qualquer data, mas aquelas que são significativas para mim. E, a partir das datas que me vêm à lembrança resolvi contar para vocês essa história.

10/01/85 – Morávamos em Valparaizo de Goiás, a cinqüenta quilômetros do Plano Piloto em Brasília. Eu havia chegado pouco tempo antes, de volta do Rio de Janeiro, um pouco mais desiludido e frustrado que quando parti. No semestre anterior havíamos participado de uma ópera maravilhosa, escrita por George e Ira Guershwin, “Porgy and Bess”, apresentada a primeira vez em 1935, eternizando a cena em que Clara, esposa do pescador Jake está embalando o seu bebê e cantando a mais conhecida de todas as canções dessa peça:


Summertime, and the living is easy
Fish are jumping and the cotton is right
O your daddy is rich and your mommy is good looking
So rush, little baby, don’t you cry…


Naquela manhã, mais ou menos às dez horas meu pai chegou de São Paulo, para onde viajara logo após sair da empresa em que trabalhava em Brasília. Recém Formado em Direito, tinha aberto seu escritório pouco tempo antes e, com o dinheiro da indenização que recebera comprou um Chevrolet Caravan, modelo 1978, dourado. A proposta era de viajarmos naquele mesmo dia para Fortaleza, no Ceará, lugar para onde minha irmã Eloá tinha se mudado com o Marido e dois filhos, Rebeca e Tiago, no ano anterior.

Lamentavelmente, minha irmã havia perdido seu filhinho de apenas um ano e meio, vítima de uma pneumonia severa que lhe abateu em junho de 84. O objetivo do meu pai era fazer-lhe uma surpresa e ajudar a consolar seu coração com a nossa chegada. Lá em casa era assim: para viajar não mediamos distâncias. Às quatro da tarde já estávamos dentro do carro, em direção àquela cidade misteriosa para todos nós. Iríamos conhecer in loco a provação nordestina, como era comum se referir àquela parte da federação.

12/01/85 – Chegamos a Fortaleza no começo da tarde, cumprindo assim uma jornada de quase quarenta e oito horas de viagem. Eloá nos recebeu chorando muito de alegria. Foi uma coincidência feliz o fato de a Igreja Betesda, na qual ela e seu marido Domingos trabalhavam estar inaugurando seu templo, na rua Dr. José Lourenço, paralela com a Avenida Barão de Studart. Quando chegamos ao culto, fomos surpreendidos por uma enorme tenda azul e branca, vanguarda absoluta em termos de templo cristão no lugar. Linda, a igreja parecia uma nave espacial, que logo chamou a atenção da sociedade cearense.

Abarrotada de pessoas, era impossível entrar na igreja naquela noite. Porém, minha irmã deu a volta na tenda, entrando pelos fundos que davam acesso ao púlpito e, conseguiu se aproximar do pastor Ricardo Gondim, presidente da Betesda e falou sobre mim:

- Pastor, meu irmão chegou de Brasília e está aqui hoje. Ele toca piano. Talvez possa nos ajudar na igreja. O que o senhor acha? O pastor imediatamente mandou me chamar e assim pude entrar na Betesda pela porta dos fundos, ou seja, já comecei pelo púlpito! Foi o primeiro contato com a comunidade que deveria, a partir dali, mudar radicalmente a minha vida.

Quinze dias bastou para que nos apaixonássemos pelo lugar, suas praias de água morna, sua temperatura constantemente alta, sua água de coco gelada e o peixe mais gostoso que já provei – o pargo inteiro, servido com baião-de-dois, paçoca, batatas fritas e queijo de coalho. Fui apresentado aos sucos exóticos de siriguela, cajá e graviola, aprendi a comer caranguejo e rapidamente me vi cercado de pessoas maravilhosas da igreja. Entre elas, Jacqueline.

Jackie, como eu logo me habituei a chamá-la era uma espécie de filha adotiva do Ricardo e da Gerusa. “Mudava-se” para a casa deles nos fins de semana, devido as muitas atividades da igreja, o que tornava prático o seu acesso. Como grande parte das pessoas ali, estava terminando seu curso de inglês, além de estudar no curso de Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Com cabelos cacheados e curtos, logo chamou minha atenção, que aumentava cada vez mais, na medida em que estudávamos juntos – Ela me ensinava inglês e eu lhe ensinava piano. Mal sabia eu a importância que essa mulher teria em minha vida.

15/03/85 – Foi quando nos mudamos definitivamente para Fortaleza. Depois de voltarmos à Brasília, vender o que tínhamos decidimos voltar ao Ceará. Lembro-me com a clareza do sol ao meio dia, os primeiros sentimentos ao chegar novamente à cidade. Quando vi a placa indicativa de que havíamos chegado ao nosso destino fiz uma pequena oração, pedindo a Deus que me ajudasse a fazer meu nome ser respeitado naquele lugar. Não sei por que, mas senti necessidade de orar assim.

Daquele piano que toquei na primeira noite nunca mais saí. Tornei-me o líder do louvor da igreja, indo assim direto para um ministério na Betesda. Pastor Ricardo tornou-se logo de cara um referencial para minha vida. Passados vinte e cinco anos de convivência, ainda hoje eu celebro o dia em que o conheci. Amo profundamente ao homem que participou ativamente dos momentos mais emocionantes da minha história a partir de então.

20/04/85 – Era um sábado. Havia uma reunião dos jovens da igreja, liderados pelo Carlos Eugênio. Depois da reunião estávamos nos organizando para conhecer uma nova lanchonete que havia na cidade. Era em um centro católico de evangelização chamado Shalon. Eu ainda estava conversando com uns amigos quando senti a mão do Ricardo me envolver em um abraço, guiando-me até onde a Jackie estava. Não disse nada, apenas segui obediente ao meu líder. Ao chegar ali, ele formalmente nos apresentou:


- Allison, esta e a Jacqueline. Jacqueline, este é o Allison. VAMOS NAMORAR, NÉ GENTE?
Jacqueline enrubesceu, abrindo um sorriso envergonhado enquanto olhava para mim. Eu sorri e, num gesto quase reflexo disparei:
- Olha minha irmã, a Bíblia manda que obedeçamos aos nossos pastores! Ricardo soltou uma de suas risadas gostosas, compreendendo que eu havia captado a mensagem perfeitamente. Ele saiu de perto, mas nós continuamos.

Fomos juntos à lanchonete e naquela noite nos beijamos a primeira vez. Era o início de uma relação que dura até hoje. Senti desejo de contar pela força do dia em que se comemoram os namorados. Temos conseguido namorar através desses anos todos, o que me deixa muito feliz em saber. Claro que atravessamos crises agudas, sendo feridos por causa de algumas pedras pontiagudas que sentimos na estrada. Mas, ao avaliar a caminhada até aqui, assumo que valeu à pena e continua valendo.

Sei que estou longe de ser o marido ideal, com minhas manias, minhas neuroses e ambigüidades. Mas, percebo que a Jacqueline consegue estimular o melhor de mim. Consegue ver em mim capacidades que às vezes esqueço ou não percebo. Ela com certeza me faz querer ser um homem melhor a cada dia. Celebro hoje, no dia dos namorados, uma mulher encantadora, linda, versátil, moderna, inteligente e sensível que a vida tem me dado a honra de chamar de esposa.

Jackie, eu amo você. Feliz dia dos Namorados!

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