quarta-feira, 28 de maio de 2008

ME AGUARDEM!

Pessoal, sei que já faz tempo que não escrevo nada, mas estou a seis mil giros por hora ultimamente! Época de provas, mudança de endereço da comunidade cristã que eu lidero aqui em Floripa (um prédio antigo, muito bonito, no estilo açoreano, na Rua Anita Garibaldi 253 - Centro) entre mil "otras cositas mas"! Aguardem mais um pouquinho que tenho uma porção de assuntos pra compartilhar!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A DOR DE MARIA
Allison da Silva Ambrósio*

É que o meu coração está perdido
E a minha emoção está dorida
Por tentar achar razão na vida
Para a vida então fazer sentido

O que faço para esconder meu medo
De este segredo ser contado
Se é pecado ou se é culpa
Se é temor ou aflição
Os caminhos tão complexos da minha razão

Sinto o sol e sinto frio, sinto-me tão só
Me abandono, me humilho em cinza, saco e pó
E me viro para um lado, e me viro para o outro
Perguntando a Jeová qual o sentido
De ter nascido...
De ter vivido...
De ter morrido a esperança de algo bom
E eu ter ficado pra ajuntar os cacos
Os poucos farrapos
Do que me restou

* Essa é a idéia que compus para Maria explicar a dor que está sentindo. É o segundo dia, desde que seu filho fora crucificado. A canção vem após Maria Madalena tentar encorajá-la a reagir, a ver o sentido da morte de Cristo para a humanidade. Mas, tente consolar o coração de uma mãe, ao ver seu filho sendo moído e injustamente assassinado, ainda que fosse o Filho de Deus! Será uma ópera. Penso que é o meu grande projeto antes de partir...

domingo, 11 de maio de 2008

CANTAR PARA CONTAR
Allison da Silva Ambrósio

Anápolis, Goiás. O ano era 1980. Mais ou menos meio dia, do que seria o último no congresso da juventude Batista Nacional. Foi maravilhoso. Minha canção fora escolhida como hino oficial aquele ano. “Ergue a tua voz, o mundo ouvirá/ Que Deus é a paz e quer salvar/ Onde Ele mandar, ergue a tua voz/ Se Deus é por nós, quem nos deterá?”.Além de todos os amigos que vieram comigo no ônibus fretado pela igreja, o Jesiel veio dirigindo o seu Opala branco neve, acompanhado do inseparável amigo Zuca, do Bia e do Celso Azevedo.

Exceto o Bia, com quem eu não tinha um relacionamento muito aprofundado, pela ordem de amizade e caminhada viriam o Jesiel, o Zuca e o Celso.Éramos muito amigos, sendo uns mais chegados que outros. Jesiel fazia uma espécie de ponte entre todos nós, embora eu e o Zuca tivéssemos uma agenda à parte. Celso Azevedo era meu amigo musical, uma vez que sempre gostei de ouvi-lo tocar o seu violão Folk 12, com uma das cordas “G” oitavadas. Os acordes que o Celso fazia eram celestiais, enriquecedores e de muito bom gosto. Éramos amigos o suficiente para que eu acreditasse que daria certo um plano que estava concebendo em meu coração.

É que numa igreja de Anápolis haveria a apresentação do Oratório O Messias, de Haendel. O coral e a orquestra de lá eram competentes o suficiente para executar essa obra universal belíssima. Claro que eu queria ouvir! Procurei o Jesiel, o dono do carro, para tentar acomodar as coisas. Um Opala comporta tranquilamente cinco pessoas. Carro confortável e macio, nem sentiria a diferença em carregar um passageiro como eu, pesando apenas sessenta e três quilos (bons tempos aqueles...).

Jesiel concordou, principalmente por saber da minha paixão por grandes apresentações de corais. Os motivos dele eram bem outros. As garotas da igreja eram bem engraçadinhas e os meninos estavam muito desejosos de ouvir um... oratório! Com o Zuca não haveria problema. O Bia, irmão mais novo do Jesiel, naquele tempo não tinha muito “querer”, como diria minha mãe. Tudo correu bem, até chegar no Celso.Acostumado a conforto Celso bateu o pé, não querendo que eu fosse com eles. Alegou que a viagem seria incômoda (afinal, cento e dez quilômetros, a cento e vinte por hora é algo terrível!), que ele não gostava de viajar apertado e coisas assim. Se fosse para eu ir junto, ele preferiria voltar no ônibus da igreja.

Depois de argumentações insistentes sem resultado e, apesar de saber que tudo era apenas egoísmo infantil do Celso, agradeci ao Jesiel pela boa intenção da carona, mas decidi que não valeria à pena. Depois, se alguém tivesse que voltar no ônibus em meu lugar, eu ficaria tão constrangido que estragaria toda a viagem.Despedi-me deles e os observei se afastando, em direção ao centro da cidade, enquanto o motorista do ônibus guardava as últimas malas. Quando a porta do coletivo se fechou, a raiva que eu sentia pelo Celso era tamanha, que questionei até os motivos de ter feito aquela viagem. Como poderia sair de um congresso que se propunha espiritual, com aquela vontade louca de esganar alguém?

Dirigi–me às últimas poltronas. Havia um casal de namorados, que provavelmente tinham começado o relacionamento no congresso. Sentei-me no lado oposto, na janela. A viagem começou e eu nem percebi. Do jeito que me sentia, o casal poderia ter pintado e bordado ali do meu lado e eu nem notaria. Minha mente parecia querer me massacrar um pouco mais, lembrando-me alguns trechos do oratório. “Pois o Senhor onipotente reina... Rei dos Reis... Aleleuia, aleluia, aleluia... ALE... Luiáááá!”. Ai, que vontade de esganar o Celso!

Minha tortura mental só foi interrompida por uma discussão que comecei a notar ao meu lado. O casal que iniciou a viagem aos beijos e abraços, parecia não se entender do meio para o final. Embora tentassem disfarçar sufocando um pouco a voz, era certo que estavam brigando. E a discussão foi ficando acalorada, a ponto de o rapaz se levantar de repente, indo sentar-se lá na frente do ônibus, deixando a garota chorando sozinha perto de mim. Foi bom. Só assim tirei a atenção do meu problema e comecei a pensar que havia outras pessoas com suas dores particulares. Todos são complicados. Uns mais, outros menos, porém todos.

Comecei a pensar na forma de consolar a menina. Nada espiritual, admito. Linda, cabelos claros e encaracolados, até o seu choro parecia melodia aos meus ouvidos. Olhei na direção do rapaz. “Tão idiota, meu Deus!”, pensei enquanto tirava a capa do violão. Quando me dei conta, já estava viajando naquelas lágrimas que brotavam do rosto angelical de adolescente. As maçãs de sua face estavam ainda mais rosadas, enquanto olhava perdida para o campo que corria ao lado de sua janela.

Primeiros acordes. Leva a mão ao rosto e enxuga de forma decidida o que poderia ser sua última lágrima pelo tolo que a abandonou ali. “Quando o choro é uma arma de escape...”, me escutei cantando numa altura suficientemente audível para ela. Ela voltou de seus pensamentos, baixando lentamente a cabeça, virando-se em minha direção. “Quando não há mais razão pra o seu viver...”, um misto de interesse e intriga fez seus olhos brilharem. “Quando a frustração te invade, quando o coração se abate...”, assentiu com a cabeça, como quem pergunta: “como é que ele sabe que é exatamente assim que me sinto?”. “Quando a morte parece o único jeito pra você”, ela arregalou os olhos pela gravidade e exagero da frase.

Começamos a rir da situação tão trágica, tão fora de qualquer possibilidade. Ainda mais, por causa de um borra-botas qualquer, sem competência para manter um relacionamento.“Tem caneta e papel?”, minha pergunta pareceu pegar-lhe de surpresa. “É que a inspiração está chegando e se eu não me apressar, posso perder uma bela canção”. “Você é compositor?”, perguntou na tentativa de ganhar tempo, enquanto vasculhava com rapidez a sua bolsa.

Encontrou o que queria. Uma caneta que comprara como lembrança do congresso. Antes de estendê-la para mim, completei: “pode ir escrevendo enquanto eu canto?”, ela assentiu, sentando-se melhor ao meu lado:

Olhe em volta, veja a criação, contemple o céu e a imensidão
E verá que existe uma chama de luz
E todo problema, todo dilema, todo medo, todo segredo
Não se esqueça: Conte pra Jesus”.

De repente, lá estava eu, consolando a menina, falando um pouco sobre como as contingências nos pegam de surpresa. Não sei se falava aquilo por sua causa ou por causa do Celso e toda aquela história de voltar apertado para casa. Espiritual pra caramba, coloquei um pouco do determinismo estratégico que costumamos usar para entender as coisas como que manejadas por Deus, para desembocar justamente naquele momento. Foi com uma ladainha dessas que, logo após o ônibus encostar em Brasília, o jovem saiu em direção a sua casa e eu fiquei. Com a garota e a nova canção! Ai, que vontade de dar um abraço no Celso!

Passados alguns meses, com a raiva acalmada pelo rápido namoro com a menina do ônibus, precisei conversar com o Paulo Azevedo, pai do Celso. Ele não estava, mas o som melodioso e envolvente do Folk já anunciava a presença do seu dono. “E aí negão, tá com raiva ainda?”, aquela voz anasalada do Celso parecia ainda mais engraçada quando ele queria rir da cara de alguém. Contei pra ele os motivos pelos quais não poderia alimentar raiva dele. A viagem, diferente do que pensei, foi maravilhosa, com resultados melhores ainda. Falei da canção que compus, o que o motivou a pedir que eu cantasse pra ele escutar.

Estendeu o seu violão em minha direção e foi assim que toquei pela primeira vez em um violão de doze cordas. Ele gostou muito da canção. Mais ainda da história que a envolvia. Depois, sugeriu que eu personalizasse mais a história. Como fazer isto? Ele continuou de onde eu parei:

Quando choro, dou vazão a um sentimento
De, talvez, insegurança ou desilusão...

Depois que captei a idéia, mudei o rumo da melodia para dar mais força ao momento de dor que propunha:

A vida parece estranha, sentindo uma dor tamanha
E às vezes até me arrependo de ter um coração...

Sempre fui muito trágico. Acho que aprendi a acentuar minhas histórias com uma dose maciça de fatalismo, de tanto ouvir as histórias do meu pai. Ele sempre foi para mim a personificação de um Macbeth, de Shakspeare. O Celso riu do meu drama, mas gostou do rumo que dei ao testemunho. Para seguir a mesma linha melódica anterior, sem perder o tempo da música, fomos logo à resposta para a crise:

A resposta aos anseios meus, não vem de homens, pois é dom de Deus
Que me outorga a liberdade em uma cruz
Adeus melancolia, sinto alegria, o que há muito eu não sentia
Meus problemas, deixei com Jesus!

Foi a redenção do meu amigo. Depois do que me fez, achei que não merecia perdão. Mas, depois de me deixar tocar em seu violão, além de me ajudar com uma bela canção que surgiu de todo aquele imbróglio, me dei conta que gostava mais dele do que ele próprio seria capaz de desfazer. A menina da história foi embora da minha vida, tão rapidamente quanto entrou. Mas, a canção que ficou continua a sensibilizar corações e trazer esperança para muita gente. Ah, que vontade de abraçar o Celso!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

É A VIDA (parte II)

Não há coisa alguma que persista em todo o Universo.
Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira.
O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio...
O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova.
Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite...
Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida?
Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... a planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor.
Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas.
Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente.
Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem.
Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos.Também nossos corpos mudam e sem descanso...
E também a natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... todos os seres têm suas origens noutros seres. Existe uma ave a que os feníciosdão o nome de fênix.
Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia.
Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada.
Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes.
De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outros cinco séculos...
Assim também é a natureza e tudo o que nela existe e persiste.
(Última parte do texto METAMORFOSES, de Ovídio)
É A VIDA!
"A glória dos mortais num só dia cresce,
Mas basta um só dia , contrário e funesto,
para que o destino, impiedoso, num gesto
a lance por terra e ela, súbito, fenece"
( Píndaro)
"O vento, achuva, o sol, o frio
Tudo vai e vem, tudo vem e vai".
(Orides Fontela)
"Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Como a vida é senha de outra vida nova
Como a vida é vida ainda quando morte
Como a vida é forte em suas algemas.
Como a vida é bela
Como a vida vale mais que a própria vida sempre renascida".
(Carlos Drummond de Andrade)
"Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto
É como se abrisse o mesmo livro
Numa página nova..."
(Mário Quintana)
"O encanto
Sobrenatural
que há nas coisas da natureza!
se nela algo te dá
encanto ou medo,
não me digas que seja feia ou má,
é, acaso, singular... "
(Idem)
"Eu fico com a pureza
das respostas das crianças:
É a vida. E é bonita, e é bonita!"
(Gonzaguinha)