sexta-feira, 9 de maio de 2008

É A VIDA (parte II)

Não há coisa alguma que persista em todo o Universo.
Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira.
O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio...
O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova.
Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite...
Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida?
Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... a planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor.
Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas.
Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente.
Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem.
Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos.Também nossos corpos mudam e sem descanso...
E também a natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... todos os seres têm suas origens noutros seres. Existe uma ave a que os feníciosdão o nome de fênix.
Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia.
Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada.
Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes.
De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outros cinco séculos...
Assim também é a natureza e tudo o que nela existe e persiste.
(Última parte do texto METAMORFOSES, de Ovídio)

Um comentário:

nêta disse...

Olá Allison,

Queria agradecer-lhe o (fantástico)comentário que fez ao meu texto (juro que não esperava nada que chegasse nem perto) e aproveitei para espreitar o seu blogue. Gostei muito. Gosto muito da sua escrita e das suas descrições: a que faz de si, a do próprio blogue. Acho que devia postar mais textos seus, não se limite a citar outros autores.

Fiquei cheia de curiosidade de ler o livro de Pablo Neruda de que me falou, mas não o encontro à venda. É pena. Vou tentar encontrá-lo numa biblioteca.

Gostava que me dissesse como teve conhecimento do meu blogue. E continue sempre a encantar-nos com as suas palavras!

Bjs
Nêta