segunda-feira, 15 de junho de 2009

ACHO QUE VOCÊ É UM SALMISTA...


Quando menino, em minha pré-adolescência brasiliense eu era chamado de “azul”, “cabeça-de-palito-de-fósforo”, “de - noite” e vários outros apelidos que agora não lembro. Em alguns casos eu ralhava com o desrespeito. Era pior. Aí é que o apelido grudava mesmo. De todos os que duraram algum tempo, o que mais ficou foi uma contração até certo ponto carinhosa do maior deles: “palito”.

Lembro-me do “Saulogate” me chamando assim. Ele, por sua vez recebeu o apelido estranho, em razão de ter sido pego furtando um caderno em sala de aula. Era a época do escândalo do partido republicano norte americano, que foi conhecido como o “escândalo de Watergate”, culminando na renúncia do presidente Richard Nixon. E o Saulinho abriu caminho para o nascimento do Saulogate!

Nunca me aborreci realmente com os diversos apelidos que, ao longo dos anos eu fui colecionando. Até porque eu sempre gostei do nome que meu pai me deu, embora ele mesmo me dissesse um dia que não sabia o seu significado. Depois de saber que os nomes das minhas irmãs tinham belos e bíblicos significados, fui procurá-lo e perguntar. Ele me disse que não me deu esse nome por algum motivo especial. Aliás, ele estava esperando minha mãe no hospital, já em trabalho de parto, quando começou a folhear uma revista de motores e turbinas. Foi assim que descobriu o Turbo Allison, definindo então qual deveria ser o meu nome.

Não gostei nem um pouco da explicação, ainda que tenha gostado de saber que meu nome estava associado a uma turbina de avião. Mesmo assim, achei melhor pensar em alguma explicação mais clássica. Encontrei-a nos Estados Unidos, com suas expressões idiomáticas interessantes. Em inglês, meu nome se torna uma delas: All is on (Está tudo em cima!). Muito melhor! Está tudo bem, está tudo em cima comigo! Adotei essa expressão para mim.

Depois que li um versículo especial na carta de Paulo, o apóstolo aos filipenses, no capítulo quatro e versículo onze, eu tentei mudar um pouco a forma de olhar a vida: “aprendi a viver bem em toda e qualquer situação”. Estar bem em qualquer situação não significa de modo nenhum que as coisas vão melhorar magicamente, apenas porque pensamos positivo. Significa que, a despeito de tudo vamos tentar preservar uma boa perspectiva em todas as situações.
É extremamente difícil, mas vale à pena o esforço. Foi assim que aprendi a fazer música das minhas dores, ansiedades e angústias. Alguns dos maiores clássicos “lá de casa” surgiram das tristezas que senti e, não fosse a minha poesia, estariam agora no esquecimento do tempo que passou. Agora, além de me mostrarem como foi que saí do atoleiro que me propunham, as canções desse tempo têm ajudado a centenas de outros que as acessam através dos CDs que eu produzo depois.

Estava conversando com uma irmã sobre a vida, sem perceber a quantidade de vezes em que me reportava às canções que escrevi durante esse período. A música e a poesia já há bastante tempo se tornaram características da minha resiliência, da minha teimosia em continuar lutando depois de vários golpes sofridos. “Acho que você é um salmista”, ela me disse, depois de escutar mais uma das minhas canções.

Fiquei lisonjeado com essa observação, embora a imaginasse um tanto imprópria no meu caso. A primeira idéia que fiz ao escutar a mulher foi a de Davi, Moisés, Asafe e todos os que escreveram o livro dos Salmos, que depois foram compilados e organizados pelo Rei Ezequias de Judá, dando para eles a disposição de capítulos, como hoje conhecemos.

Depois de um tempo pensei melhor e consegui perceber o que ela disse realmente. Que salmista é aquele que consegue lapidar sua dor imediata, tornando-a uma arte perene. Aquele que aprendeu a chorar com estilo, cadência e simetria. Sente dor como os outros, embora a exprima com sentimento e rima. Salmista é todo aquele que consegue orar, como Myrthes Matias, em sua poesia “Ao Senhor dos Pequeninos”:
“Faze-me Senhor pequena ostra
Que em pérola transforma sua dor
Podendo transformar o meu problema
Numa mensagem em forma de poema
Capaz de transmitir paz e amor”

Sendo assim, aceitei a comparação honrosa que me foi feita, acrescentando em meu coração que salmistas todos nós somos, apesar de que alguns não tenham ainda percebido isto. Se fizermos pérolas das nossas dores, seja escrevendo uma crônica, seja fazendo uma rima, seja pintando um quadro ou escrevendo uma canção, sem perceber estaremos nos tornando os salmistas do século vinte e um. Um dia, quem sabe, irão contar a história do nosso tempo a partir dos nossos lamentos, da nossa arte, das nossas dores transformadas em canção.

E o mais precioso dessa experiência é percebermos o quanto as pessoas se identificam com aquilo que compartilhamos. Algumas pessoas se aproximam de mim e dizem: “Por favor, canta aquela minha música?”, referindo-se a uma das canções que eu compus e que lhes falam diretamente ao coração. Da mesma forma que eu me acostumei a me identificar com os Salmos de Davi e todos os que escreveram esse belo livro da Bíblia. “Acho que você é um salmista”, ela disse. Acho que faltou eu responder: “Sou sim. Igualzinho a você”!

4 comentários:

Olivia Melo disse...

Olá meu querido amigo e pastor Alison...Fiquei feliz em encontrar noticias suas depois de tantos anos.Não sei se lembra de mim,sou a Olivia da cidade de Monsenhor Tabosa no Ceará...Nós estudamos juntos na Fanor em 2005...Vc foi a primeira pessoa que conheci na Faculdade,e não esqueço aquele dia...no meu aniversário ganhei um cd Seu " calma meu coração"...que tenho até hoje!E que sempre que estou aflita ouço e me acalmo!Lembro-me também de um show beneficente que fui aqui em fortaleza...E não sei se você recorda, mais toda a turma de comunicação social da fanor agradeceu a você pela paródia que fez na disciplina de lingua Portuguesa que na hora da prova todo mundo cantava e assim conseguimos uma boa nota.rsrss
Tenho certeza que você foi enviado por Deus para levar a sua palavra á todos nós...Que Deus continue abençoando sua vida e sua familia cada vez mais...Entre em contado o meu email é olivia_melo_fm@hotmai.com.
Um forte abraço em você e toda a sua familia!

cynara disse...

Pr Allison,seu blog esta maravilhoso é sempre um prazer ler tudo que o sr. escreve.Deus o abençõe.
Abraço
Cynara
Fortaleza/ce

Allison Ambrosio disse...

Obrigado, queridas amigas. É muito bom saber que posso, de alguma forma contribuir. Um beijo carinhoso.

Wendel Cavalcante disse...

Essas canções continuam falandoo muito ao meu coração!
Pena que meu irmão perdeu o "Calma Meu Coração"...
Elas também me divertem muito...hehehe!!! A Festa na Floresta que o diga...hehehe!!!
Contiunuo teimando que tudo isso pode ser transformado num livro "Cantando e Contando"...heheheh!!
Abração, All is on!