sábado, 18 de outubro de 2008

DEVANEIO AQUÁTICO


Sabe quando a gente tem muito pra falar e pouca energia para fazê-lo? Acho que foi assim que me senti esses últimos dias. Sei que faz parte do ciclo da vida, essa coisa de você experimentar picos de excitação e porões de angústia. Acordar em uma manhã de chuva, com um brilho radiante de sol nascente em seu rosto, ou então brindar uma manhã de sol com um rosto de velório.

Esses altos e baixos são ótimos para um poeta garimpar suas rimas, disfarçar seus medos, sublimar suas frustrações e ainda assim enlevar espíritos. Mas, nem sempre consigo. Parece que surfo ondas gigantes que me jogam muito fundo, quando quebram ainda no meio do oceano. Nadar em direção à superfície fica às vezes muito difícil. O corpo dói, menos pelas braçadas salvadoras, mais pela queda da crista da onda.

E assim o processo fica enfadonho. Tanto a onda quanto o enorme buraco onde ela me joga depois. Isso cansa. Dá vontade de ficar boiando na superfície, esperando uma marola piedosa que, sem muito alarde, sem movimentos muito bruscos me acalente, tranqüilize e me desloque suavemente em direção à praia. Que não me cobre esforços ou contrapartidas. Que me leve como uma mão suave que vela o sono infantil.

Então eu sonho com uma prancha colorida, enorme, segura, que me permite estar por cima, manter o controle até o fim, até a areia. Ou então com um escafandro formidável, espaçoso, pleno de oxigênio, que me permite avaliar corretamente o mais profundo abismo onde estou a fim de contemplar as belezas que também ali podem ser encontradas. Os peixes multicores de diversas formas e tamanhos, a flora marítima tão misteriosa e exclusiva. Até me aperceber que qualquer lugar pode ser bom, desde que tenhamos o equipamento certo.

Talvez seja isso. Talvez eu esteja querendo correr na areia vestido com um escafandro e surfar no fundo do oceano. Difícil de entender? Imagine de explicar...
Allison da Silva Ambrósio

2 comentários:

Wendel Cavalcante disse...

Allison!
Fazia tempo que eu não passava por aqui. Melhor ainda vê-lo de volta no Blog!
E esse enfado, heim?. É como andar de "pevete", quando, na verdade, você precisa de um foguete espacial. Aí fiquei imaginando: como surfar no fundo do mar? Ou como correr na beira da praia vestido num escafandro? Decidi, então, pedir ajuda aos poetas.Como bem colocou o poeta romano Virgílio (70-19 a.C)em sua obras "Geórgias": "Sed fugit interea fugit irreparabile tempus". Esse ciclo vai passar!
Ambrósio, um outro poeta dos nossos dias, falando sobre quietude, em meio a agitação aquática, procurou
"reordenar o pensar
concentrar-se em todo o mar
não nas mudanças bruscas das marés".
Abração!

Pilates Mania disse...

O que é isso, companheiro????
Seus escritos andam um pouco tristes...
Cadê a alegria de garoto travesso, olhar inquieto, sorriso largo...?
O que está pegando?