sexta-feira, 13 de março de 2009

UM AMIGO ME DEIXOU...
Um amigo me deixou... E o cruel é essa suspeita de que ele não era tão amigo assim, pelo menos da forma de amizade que eu pensava que me tivesse. Veio me dizer da impossibilidade de caminhar comigo, da divergência de estilo, de liderança, essas coisas doloridas que quanto mais são explicadas, mais complicadas ficam de se entender. O dia escureceu logo cedo, no café que tomamos juntos e me foi dada a fatídica notícia.

Como aquele pai que, ao perceber sua impossibilidade ante ao filho drogado em sua frente fica repetindo sem parar: “o que foi que eu fiz? O que fiz de errado?”, assim passei o dia e permiti que o dia passasse por mim, reavaliando, lamentando, suspirando e todos os outros “andos” implícitos neste tipo de angústia. Lembrei-me de todas as vezes que fui preterido, ou, pelo menos a maior parte delas. Todas as decepções amorosas ou profissionais de que me lembrava, todas as afrontas sofridas como líder de ovelhas, como líder de pastores ou como liderado.

Algo pitoresco ocorreu: lembrei-me do primeiro trauma que tive com os humanos. Eu tinha nove anos de idade e a minha primeira namoradinha, sete. Você pode imaginar que tipo de namoro era possível a duas crianças com tais idades, no início da década de setenta (pois é, o tempo passa!). Mas, a lembrança foi boa para registrar minha primeira poesia de amor:

"E... por favor, chegue a uma conclusão
Fique agora, fique comigo
Ou suma do meu coração! "
(nove anos de idade! Quanta precocidade!)

Numa briga dessas comuns entre irmãos, o irmão dela pegou a poesia e a entregou para seu pai que, pasme você, levou tudo muito a sério! Não sei se bronqueou com a menina ou o quê, mas, no outro dia estava no culto de oração das seis da manhã, por saber que meus pais estariam também. Com sua mulher ele os chamou para o canto do templo, onde leu jocosamente a minha poesia. Por conhecer meu pai como conheço, até consigo imaginar o seu orgulho por dentro, sua comemoração pelo filho galanteador em tão tenra idade!

Depois de ler a carta, Dr. Andrade, pai da garota virou-se para os meus pais e desferiu: “Quero deixar claro que café é café, leite é leite. Não gosto e não quero misturar os dois”. Para um bom degustador, meia xícara basta! Minha mãe me chamou, não sei quanto tempo depois de passar por esse vexame. Eu estava jogando bola na rua de casa com os meus vizinhos. Como estivesse indo para o armazém me disse para acompanhá-la.

Com aquele tato abundante das mães e escasso nos pais, ela conseguiu falar tudo sem me machucar, embora deixando claro que eu estava proibido de me aproximar da menina. Só com o passar do tempo é que pude perceber a magnitude daquela ferida aberta em minha alma. Ainda não conhecia bem a divisão das castas pela cor da pele. A única coisa que percebia é que enquanto meu pai ia pra igreja de bicicleta, o pai da menina ia de Wolkswagen (o bom e velho fusquinha, que na época era “o cara”!).

Houve várias outras manifestações depois dessa em minha vida. Acho que me marcou mais por ter sido a primeira. Assim como a primeira impressão, a primeira mágoa, a primeira traição, a primeira perda, são sempre as primeiras coisas as que mais marcam a alma da gente. No caso do meu amigo, ele não foi o primeiro, embora fosse a primeira família a se afastar de mim, depois desse novo momento que estou vivendo. Talvez seja por isso que doeu tanto. Ademais, nem sei direito por que estou contando isto... Acho que é só para desabafar com quem só me lê por puro exercício de sua vontade ou benevolência para comigo! Mas, a vida continua. Não foi o primeiro... Não foi o último... Não foi...

8 comentários:

Wendel Cavalcante disse...

Allison!!!!
Muito bom tê-lo de volta!
Quanto ao texto "Um amigo me deixou", já senti isso na pele. Até escrevi também lá no meu blog um texto, "Sobre ferrolhos".
Foi aí que descobri uma das dimensões de ser bem-aventurado: erguer-se, colacar-se de pé, levantar a cabeça, seguir em frente, não desistir da vida!
Abração!

Anônimo disse...

Pastor Allison ... também entristeci por esses dias pelo mesmo motivo, sem mais ou algo de menos. Como diz um autor "Há pessoas que nos roubam...Há pessoas que nos devolvem", mesmo essas últimas vão ... "embora". 1 Abraço, com carinho!

Unknown disse...

Oi Allison,
Que bom o senhor de volta,também to vivendo isso de pessoas queridas que se vãoe as vezes nem sabemos direito o porque.
Abraço

Anônimo disse...

Oi pastor! Blog muito bom, parabéns!!! Sou da Betesda Aldeota, pastoreada por Domingos e Doralice! Gostaria muito de cantar sua música "O que fará você, de Jesus, chamado Cristo" em uma peça na semana santa...entretanto, não tenho a letra dela e a gravação que tenho é de uma fita sua, mas que n~]ao dá pra escutar direito..enfim, a música é linda e perfeita pra cena que pretendemos fazer...será que o sr. poderia postá-la pra gente? Obrigada!

Allison Ambrosio disse...

Pode deixar que vou fazer isto. Gosto muito dessa canção. Foi fruto de uma mensagem que escutei de um americano que estava visitando a Betesda, uns vinte anos atrás. Vou ver se consigo postar aqui no blog, assim todos os que entrarem poderão desfrutar dela!
Um abraço!

Anônimo disse...

Obaaaa!!!
MUITO OBRIGADA!
Qualquer coisa, meu email é camiladealbuquerque@yahoo.com.br

Deus te abençoe, pastor!

Diana disse...

Allison, meu querido, vc nos deixou...
Q lacuna...
Q saudd de vc!...
Q saudd de suas canções, cantadas por vc...
Q saudd de sua gargalhada...
Q saudd de sua voz, cheia de bom humor...
Q saudd!
...

Lian disse...

Estou aqui irmão!!!!!