quinta-feira, 10 de abril de 2008

NO AMOR E NA GUERRA DA VIDA!
Allison da Silva Ambrósio

O que esperar de um garoto negro e franzino, pobre quase ao nível Biafra, número cinco na escala dos oito filhos oficiais do pai? Meu diferencial era a desenvoltura e o talento para música. Não conformado com uma situação socialmente frágil no contexto brasileiro, fui à luta.

Aprendi a ser independente quanto aos muitos negócios nos quais me meti. Depois de me tornar vendedor de sorvetes a dez centavos, pelas ruas de Santo André, em São Paulo aos seis anos de idade, todo o resto se tornaria fácil: engraxate, menor aprendiz, office-boy, escrevente auxiliar, vendedor de ilusões (também embarquei no barco da AM WAY!) até ter meu próprio negócio: uma empresa de cobrança. Logo faliu, pelo tanto que foi cobrada!

No amor, tentando tal sorte desde os nove anos (transcrevi para uma garota de sete algumas frases do Roberto CArlos: "Eu tenho tanto pra lhe falar..."; é meu primeiro registro mental sobre o assunto), depois de tantos foras que levei desenvolvi uma técnica que transcendeu as questões do coração.

Simples: quando eu me interessava por uma garota, geralmente muito além das expectativas que todos possuiam a meu respeito e, para não me frustrar muito com as respostas previsiveis, decidi raciocinar que o "não" provável eu já possuía. O "sim" insólito e incrível até para mim, depois de me emudecer de assombro inicialmente iria me deixar feliz por ter tentado.

Não me espezinhem além do necessário, querendo saber qual das respostas acima foram as mais recorrentes nas minhas investidas! Porém, observei que saía menos ferido de cada uma delas. Tive poucos relacionamentos para valer na vida, mas não me permiti ferir com o que não consegui.

"Quer namorar comigo?", "NÃO!", "grande coisa... Eu já sabia!". E assim tocava a vida, com alguma integridade emocional no meu peito pré-adolescente. Sabendo da possibilidade de não funiconar eu não me espantava. Sendo assim, não me frustrava, a ponto de lamentar a vida, a sorte, o amor, etc.

Quando era o contrário que ocorria, ou seja, a resposta era "sim", geralmente eu travava. Por não ter muito assunto ou por uma súbita crise de constrangimento que me tomava de assalto.

O realmente quero dizer nas entrelinhas dessas tentativas frustradas de um Dom Juan de Marco Jamaicano é que, invariavelmente, já entramos no ringue da vida derrotados, esperando o soar do gongo do fim da luta, para um assalto que mal começou!

Como a hiena do desenho animado, parecemos uma porta enferrujada, revolvendo-se em seus gonzos a dizer: "ó vida, ó dor, ó sofrimento!", quando poderíamos nos surpreender, apenas olhando nosso desafio sob outra motivação e perspectiva.

Foi numa música do Chico que eu ouvi que até o copo vazio está cheio... De ar! Li em outro lugar qualquer que o pessimista, ao ver meio copo d'água observa que o mesmo está meio vazio. O otimista vê o mesmo copo e, além de beber a água e matar a sede, observa que o mesmo estava MEIO CHEIO!

Vamos combinar então? Temos sempre duas maneiras de encarar um mesmo desafio. Por que já decidir a perda sem nem ao menos tentar vencer? Por que jogar a toalha que poderia muito bem ser balançada de felicidade no final, após a sua vitória? Quando a barriga gelar, as mãos suarem, o medo chegar sem ser convidado e as pernas tremerem, lembrem de mim e das minhas tentativas infantis de parecer adulto: Se não for funcionar, antecipe-se: "Grande coisa! Eu já sabia que poderia ter sido assim!"

Agora, se der certo, SURPREENDA-SE E COMEMORE! VALEU A TENTATIVA!

2 comentários:

Jackie Kauffman Florianopolis-SC disse...

Olha só o que você ganhou com a tentativa!!! EU!!!!!
Bjim, cheio de modéstia!

Bá Reis disse...

Eu diria....
....simplesmente inspirador!
Bjo,