sexta-feira, 25 de abril de 2008

UMA CONVERSA SOBRE CASAMENTO*

Casamento. Quase todos os meus conhecidos tinham problemas nesse setor. Alguns tinham problema para entrar, outros para sair. Minha geração encarava o assunto como se fosse um crocodilo originário de algum brejo. Habituei-me a ir a casamentos, cumprimentar os noivos e ficar um tanto surpreso quando via o marido poucos anos depois em um restaurante em companhia de uma mulher mais jovem, que ele me apresentava como uma amiga. “Já me separei de Fulana”, acrescentava.

Por que temos tais problemas? Perguntei isso a Morrie. Tendo levado sete anos para pedir Janine em casamento, fiquei me indagando se as pessoas da minha geração não estariam sendo mais cuidadosas do que as que vieram antes, ou quem sabe mais egoístas?

- Bem, tenho pena da sua geração – ele disse. – Nesta cultura é muito importante estabelecer uma relação amorosa com alguém, porque de um modo geral a cultura não nos dá isso. Mas a rapaziada de hoje ou é muito egoísta para entrar numa relação amorosa verdadeira, ou corre para o casamento e seis meses depois se divorcia. Eles não sabem o que querem em um parceiro. Nem sabem quem eles são. E, sendo assim, como podem saber com quem estão se casando?

Charlotte e Morrie, que se conheceram quando estudantes estavam casados há quarenta e quatro anos. Eu os observo agora, quando ela lembra a ele a hora de tomar remédios, ou acaricia-lhe o pescoço, ou fala sobre um dos filhos. Trabalharam como uma equipe, muitas vezes não precisando mais do que um olhar silencioso para compreender o que o outro pensava. Charlotte é uma pessoa particular, própria, diferente de Morrie, mas sei quanto ele a respeita. Às vezes, quando conversávamos, ele dizia, “Charlotte pode não gostar se eu revelar isso”, e encerrava a conversa. Eram as únicas ocasiões em que ele se fechava.

- Uma coisa aprendi sobre o casamento – disse ele. – É como se nos submetêssemos a um teste. Descobrimos quem somos, quem a outra pessoa é e como nos entrosamos ou não.
- Existe algum processo para saber se um casamento vai dar certo?
- As coisas não são simples assim, Mitch – respondeu ele, sorrindo.
- Eu sei.
- Mesmo assim, há algumas normas aplicáveis a amor e casamento: se não respeitarmos a outra pessoa, vamos ter muitos problemas. Se não soubermos ceder aqui e ali, vamos ter muitos problemas. Se não conseguirmos falar abertamente sobre o que está acontecendo entre os dois, vamos ter muitos problemas. E se não tivermos um conjunto de valores em comum com a outra pessoa, vamos ter muitos problemas. Os valores devem ser semelhantes.
- Sabe qual é o mais importante desses valores, Mitch?
- Diga.
- Acreditar na importância do seu casamento.
Respirou fundo e fechou os olhos por um instante.
- Pessoalmente – suspirou com os olhos ainda fechados -, considero o casamento como uma coisa muito importante, e quem não o tentar não sabe o que está perdendo.
Encerrou o assunto citando o poema que tinha na conta de uma prece: “Amen-se ou pereçam”.

* Extraído do livro “A Última Grande Lição”, de Mitch Albom, um repórter esportivo que acompanhou passo a passo os últimos dias de vida de seu professor, transformando essa experiência em um belo livro.

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