quarta-feira, 19 de março de 2008

DUÍLIA

Essa noite eu assisti a um filme rodado nos anos sessentas, baseado em um dos contos mais bonitos que já li: “Viajando nos Seios de Duília”. Acho que uma das coisas que tornou o texto mais significativo para mim foi estar com o Ricardo Gondim naquela tarde, num dos raros momentos de descontração que tivemos em Fortaleza, numa livraria do Iguatemi.

O texto se encontra na coleção “Os Cem Melhores Contos do Século”, ou algo assim. Fala de um homem, Sr. José Maria que, ao que tudo indica, estacionou todas as suas emoções em um singular momento de sua adolescência, quando foi procurar a garota por quem estava apaixonado havia muito tempo, contudo sem coragem de falar.

Seu pai recebeu uma nomeação do governo federal no Rio de Janeiro, que o chamava para assumir o trabalho em apenas dois dias. Portanto, Zequinha precisava encontrar Duília, seu amor de juventude para dar as duas notícias – a partida iminente daquele vilarejo onde moravam e a paixão que sentia. Para sua surpresa, ela também lhe confessou ser apaixonada por ele desde muito tempo, o que o sobressaltou em razão de só saber dessas coisas no tempo de ir embora.

Quarenta anos depois, o agora Sr.José Maria está aposentado, morando no Rio de Janeiro e muito infeliz. Descobriu que havia posto todas as suas energias no trabalho e não construiu família, amizades ou relacionamentos duradouros. Por causa de uma conversa informal em um velório, José Maria chega à conclusão de que se voltar a Pouso Triste, a cidadela de onde saiu e onde deixou o seu grande amor, provavelmente reencontraria a felicidade.

Desde a viagem em si até a chegada, não se faz necessário dizer que foi uma grande decepção o seu retorno. Apesar de nada ter mudado esteticamente falando – a cidadezinha ficava no interior mais remoto do Estado de Minas Gerais – o José Maria havia mudado. Lugares que pareciam enormes, agora para ele eram atravessados em poucas passadas. Rios caudalosos para um menino, não passavam de riachos frágeis e inofensivos para o homem que voltou.

Quando se aproximou de Duília, agora uma senhora de mais de sessenta anos de idade, viúva, três filhos, ao revelar finalmente quem era, fez com que a mulher se angustiasse e perguntasse decepcionada: “Por que você fez isso? Por que voltar no tempo, atrás de um passado que não existe mais, de uma pessoa que nunca mais será a mesma?”. Quando se deu conta dessa realidade, José Maria saiu da sala, caminhando como que sem rumo em direção à árvore onde deu seu primeiro e único beijo de amor.

O filme termina assim. Assim como a vida, que nem sempre segue um roteiro do Spielberg em seu final. Seca, fria e inexorável. “É a vida!”, multiplicam-se afirmações do tipo. Achei até melhor que nem o autor do conto e nem o roteirista do filme tivessem tentado dar um final plausível para o homem desesperado. Acho que seria a morte, mas, na idade em que se encontrava, talvez nem conseguisse voltar mais para o Rio de Janeiro.

Já voltei no tempo algumas vezes, revisitando lugares e reencontrando pessoas queridas. Em algumas delas chorei de emoção. Não sei se isto já um dispositivo de prevenção emocional da nossa própria mente, pressentindo a chegada da maturidade. Aí nos apegamos às curvas, alças e nós do passado, da nostalgia, como que querendo voltar no tempo, nem tanto pela experiência em si, mas para adiar a fila da partida eterna.

É quando os perfumes, os sabores, as cores e frases nos chegam com toque de eternidade. É quando nos encontramos a administrar medos jamais antes sentidos. E saímos correndo atrás das Duílias da nossa história. Ou dos Josés Marias, diriam as mulheres. E eles não estão mais lá. E as histórias não estão mais lá. Finalmente descobrimos que nós também não estamos mais.

3 comentários:

Unknown disse...

Paz do senhor
sou a amiga da jucilene e jeferson da nossa igreja betesda da volta da jurema e deois da sede. Meu nome é carmem e nois nos encontramos aqui em cascavel em um evento, feliz pascoa para vc e toda sua familha
me add no msn e orkut=carmentuxa@hotmail.com
Paz do Senhor

Pilates Mania disse...

Nostálgico né. Já me senti assim muitas vezes.... tem coisas que tem sabor de saudade, outras cheiro de saudade.... de algo que não volta mais.
Como uma onda no mar....nada do que foi será de novo do jeito que ja foi um dia... tudo passa...tudo sempre passará...
um sorriso triste pra vc

Bá Reis disse...

Allison, esses dias meu blog recebeu um prêmio. Agora tenho que escolher alguns blogs que não vivo sem para entregar o mesmo prêmio e o seu e o da Jackie foram uns dos meus escolhidos.
Dá uma passadinha lá para ver as regras.
Um grande beijo