sexta-feira, 7 de março de 2008

MEU PAPEL É MEU ESPAÇO


Meu Papel é Meu Espaço
Allison da Silva Ambrósio


Meu papel é o meu espaço. Meu lugar recluso, tranqüilo. Posso fugir para cá quantas vezes quiser. Aqui sou rei e dono absoluto. Não tenho que dar explicações ou justificativas para ninguém, a não ser a mim mesmo.

Aqui padeço das minhas dores de amores. Aqui desfruto meus prazeres solitários e interiores. Consigo atingir aquele ponto alto que meus braços não alcançam, além de caminhar sobre as ondas furiosas e gigantes que arremetem contra a praia.

Meu papel é meu espaço de sonhos. Não reage aos meus impulsos juvenis repentinos e nem critica os meus arroubos de idealista. Apenas recebe. Recebe-me com as tintas que irão tingir sua superfície, dando forma a brinquedos, personagens e dramas que nada mais são do que reflexos da minha alma complicada e romântica.

Meu papel é meu espaço de luta, de oposição a essa realidade que tenta me roubar o devaneio, a fala fácil, a ilógica com que tento me distrair da realidade. Aqui eu falo mal, grito, choro e rio, não necessariamente nessa ordem, pois, o que há de mais excitante no meu papel é justamente não ter regras.

Ou então criá-las com o propósito objetivo de podê-las quebrar sem culpa e sem peso! Que bom é ter um papel só para mim. Para mim e os muitos “eus” que desenvolvo nesse mundo maluco que me habita. Onde a resposta está na ponta da língua, imediatamente após o agravo. A raiva é plenamente compensada com o xingamento que as convenções sociais inibem. A morte é resposta pronta à injustiça.

Meu papel é meu espaço compartilhado. Reparto apenas com os que são meus. Não dou pérolas a porcos. Àqueles que apreciam minha arte, dou de bom grado alguns lampejos de minha própria vida. Minha enigmática vida que, ora correndo, ora se arrastando, insiste teimosamente em me fazer voltar sempre ao meu pedaço de papel.

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