sábado, 8 de março de 2008

A MULHER E SEU DIA

A MULHER E SEU DIA
Allison da Silva Ambrósio

Hoje comemoramos o dia internacional da mulher. Como todas as datas consideradas importantes pela sociedade mundial, a mulher ganhou o seu dia com sangue. Conta-se de uma, ou algumas operárias que, ao reivindicar os seus direitos foram mortas, no dia 8 de março de há muito tempo atrás, quase no início do século passado.
Interessante a conexão. O espaço cedido após o sangue derramado. O reconhecimento que surge da vida que fora subtraída pela impiedade e ganância humanas. Dizer então "Feliz Dia da Mulher" seria, no melhor dos desejos, um pedido para que isso nunca mais ocorra. Que elas não precisem chorar para ter seus direitos preservados. Que não tenham que implorar para ter sua integridade garantida ou sua dignidade respeitada.
O dia internacional da mulher nada mais é que um momento de parada, de reflexão, para que não mais seja esquecida a interdependência que há entre o macho que lhe cede a semente e a fêmea que a incuba. Não pode haver desrespeito do homem que saiu de seu ventre, nem tampouco da mulher que surge de sua semente. É para que se compense sempre, anualmente, todas as agressões históricas que já lhe foram feitas, transforamando assim um dia de luto em um tempo de reconhecimento e gratidão.
A mão que balança o berço tem hoje o dia de ser embalada. O peito que abriga o primeiro alimento tem reconhecido nesse dia o seu direito à felicidade e contentamento. Hoje é dia de agrados e mimos, de afagos e palavras ternas, de romantismo e agradecimento. Pelas noites mal dormidas velando o sono, seja do filho gripado ou do marido adoentado. Pelas Marias da Penha, Cláudias Lessim, Ana Lídias Braga e tantas outras. Pelos carinhos nem sempre pedidos, embora abundantes. Pela constante negação de si mesma, primeiro para o homem que ama, depois para o filho que gera, para somente depois de todos pensar em si.
O dia internacional da mulher é um constrangimento necessário. Se nossas mentes embotadas se esquecem sistematicamente dessas que se tornam leoas assassinas, quando para defender suas crias, ou então frágeis e perfumadas rosas ao mendigar um pequeno carinho, torna-se necessário inventar um dia, estabelecer uma data, forçar um evento que nos lembre, que nos chacoalhe do torpor, do corre-corre, da busca egoísta dos nossos próprios interesses sempre perenes, para saudar uma vencedora, uma sonhadora, uma rocha titânica que se transmuta em uma manteiga derretida. Uma romântica incorrigível, que consegue ser ao mesmo tempo detentora de uma inteligência concreta, calibrada, antenada com seu tempo. Uma gigante de modos suaves, que atende pelo doce e enigmático nome de mulher. A todas elas, minha reverência e sincera celebração.

2 comentários:

Briba disse...

Obrigada pelas palavras, apesar de não ter embalado um filho meu, cuidei da minha sobrinha como se fosse minha filha...e vivo essa correria de ser mulher no século XXI, muito embora eu passei pelas etapas históricas importantes dessa trajetória feminina, nasci 1968...e respirei os ares dos anos 70, 80, 90...ou seja, ditadura militar, movimento pelas diretas já, eleição indireta que elegeu um civil e um país chorar a morte dele, cruzados e cruzeiros , num
vai-e-vem...eleições diretas...e a esquerda no poder...quan to aos direitos iguais, nem mesmo na casa de Deus encontramos de todos tal atitude de carinho e respeito. Eu esma numa posição de maioria masculina, tive questionada a minha competência nas funções que exerço...normal! num undo machista cearense...é até previsível demais.
Mas o que alegra o nosso coração de mulher, com certeza, é saber que homens como vc pastor fazem toda a diferença. bjão!

Allison Ambrosio disse...

Obrigado pelo seu carinho!