sábado, 8 de março de 2008

"Os Miseráveis"

Se existe algo terrível, se existe alguma realidade que ultrapasse os sonhos, é esta: viver, ver o sol, estar emplena posse da força vivril, ter saúde e alegria, rir com audácia, correr em direção a uma glória que está ali mesmo, resplandecente, sentir no peito um pulmão que respira, um coração que palpita, uma vontade que raciocina, flar, pensar, esperar, amar, ter mãe, ter mulher, ter filhos, ter luz, e, de repente, sem tempo para dar um grito, em menos de um minuto, mergulhar num abismo, cair, rolar, esmagar, ser esmagado, ver espigas de trigo, flores, folha, ramos sem poder agarra-se a nada, possuir um sabre inútil, sentir corpos triturados e o peso dos cavalos, debater-se em vão, com os ossos esmigalhados por um coice, sentir um sapato que faz saltar os olhos, morder com raiva os ferros das montarias, asfixiar-se, berrar, torcer-se, estar lá embaixo, e dizer: - Agora mesmo eu vivia! (trecho do livro "Os Miseráveis", de Victor Hugo, quando os soldados de Napoleão foram dizimados na Batalha de Waterloo. Ed. Cosac & Naify, São Paulo,2002 - pag. 329)

2 comentários:

Wendel Cavalcante disse...

Allison,
Ainda bem que Jesus trocou nossos passaportes amarelos por passaportes verdes! heheheheheh!!!!
Parabéns pelos textos. E eu sei que tem mais coisa boa aí nessa cachola! hehehehh!!!
Um grande abraço e fica na PaZ!

Allison Ambrosio disse...

Que bom receber você nesta sala, meu amigo querido! Entre e fique à vontade nesse nosso espaço. Fiquei impressionado com a cena que se constrói, do ponto de vista do moribundo. Ser enterrado vivo, sendo descarnado pelo peso de cavalos, coices e tudo mais. Achei tão vivo o quadro pintado de Victor Hugo que postei. Sei lá... Acho que é para isso que vai servir este espaço!

Um abraço!